No dia 4 de julho de 1983, uma garotinha de 6 anos saiu para comprar doces na mercearia em frente à sua casa, na rua Triângulo, em Rondonópolis (229 km de Cuiabá) e não voltou mais pra casa. Ela foi sequestrada e entregue para uma família que cometeu diversas atrocidades. O Estadão Mato Grosso traz pra você nesta Páscoa a história dessa mulher, cheia de dores, mas cujo final foi feliz.
À reportagem, a vítima relatou que tem uma vaga lembrança do dia do rapto. Ela contou que se lembra seu sequestrador, um homem chamado Virgílio, que a abordou e ofereceu chocolate como isca.
Se aproveitando da inocência da garotinha, o homem a levou para uma casa “grande e bonita”. Na residência, havia outra criança, um pouco mais velha que ela, que ela acredita ter sido sequestrada também.
Naquele mesmo dia, a menina foi “adotada” por um casal, que registraram a criança como Danielle de Fátima Figueiredo. Anos se passaram e Danielle começou a conhecer as piores faces do ser humano. Maltratada, a menina sofreu abusos sexuais praticados pelo homem que se passava por seu pai, pedófilo.
A mãe adotiva não acreditava nos abusos que a menina relatava e Danielle viveu dias de terror. O casal falava para a vítima que ela havia sido abandonada pela mãe biológica, além de dizer coisas terríveis a respeito da mulher que havia concebido Danielle.
Aos 11 anos, a menina começou a enfrentar o casal e a alertar que os denunciaria. O enfrentamento contribuiu para que ela conseguisse driblar os abusos sexuais. Quando completou 21 anos, o home morreu em decorrência de um câncer. Após 9 anos, a mãe adotiva também faleceu vítima de um tumor na cabeça.
Muito emocionada, Danielle contou ao Estadão Mato Grosso que há cerca de 1 ano começou a desconfiar de que poderia ter sido sequestrada e buscou saber sobre a sua verdadeira história. O primeiro passo, foi procurar os documentos do hospital onde nasceu. No registro havia a informação de que Danielle havia nascido no Hospital Cruz Vermelha, em Belo Horizonte (MG).
Por telefone, Danielle procurou saber sobre os registros de nascimento da época e descobriu que as certidões haviam sido encaminhadas a um acervo do Hospital das Clínicas da cidade. Ao entrar em contato com a unidade de saúde, Danielle descobriu que realmente não havia nascido naquele hospital. Além disso, ela descobriu que nada que constava na sua certidão de nascimento era verdadeiro.
Ao notar que foi forçada a viver uma mentira, Danielle decidiu procurar saber o que de fato havia ocorrido. Ela se inscreveu em diversos sites de pessoas desaparecidas, sempre procurando pelo ano de 1983.
Em janeiro deste ano, ela viu uma publicação na página Desaparecidos Brasil. Ao ver a foto de uma menina sequestrada, Danielle se achou parecida com ela. A vítima então salvou a foto e a encaminhou a diversos amigos de infância e primos, com quem ela conviveu quando criança. Todos confirmaram que Danielle se parecia muito com a menina, de nome Santina.
Ela ainda guarda os prints das conversas que teve com as pessoas e as reações dos amigos e familiares ao ver sua possível foto publicada no site de pessoas desaparecidas. Danielle tentou contato com a família, mas apenas em março conseguiu de fato contatar sua mãe biológica.
Com ajuda dos investigadores do Núcleo de Desaparecidos da Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoas (DHPP), Danielle continuou investigando e após muitas informações coincidirem, supostas mãe e filha resolveram se encontrar em Rondonópolis. No dia 24 de março, as duas mulheres - possível mãe e filha - se encontraram e realizaram o exame de DNA. Elas agora esperam o resultado do exame para darem início a um novo capítulo à sua história.