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Cidades Sábado, 20 de Fevereiro de 2021, 10:53 - A | A

Sábado, 20 de Fevereiro de 2021, 10h:53 - A | A

DIVIDINDO O MESMO HABITAT

Serpentes ‘invadem’ áreas urbanas

Igor Guilherme*

Uma jiboia com dois metros de comprimento foi encontrada e resgatada pelo Corpo de Bombeiros na última semana na cidade de Sorriso (340 km da capital). A serpente foi devolvida à natureza. Essas serpentes costumam vir para áreas urbanas, especialmente em áreas próximas a florestas, córregos, riachos e outros ambientes mais selvagens, para se ocultar da luz do sol e que condiz com seu próprio habitat natural.

As serpentes, assim como a maioria dos répteis, são animais ectotérmicos, ou seja, que mantêm uma temperatura constante. Para conseguir manter esse nivelamento interno, os répteis adotam certas estratégias como a não exposição a altas temperaturas e de se abrigarem em ambientes aquáticos, quando sol castiga as matas com o calor.

Essa predisposição das serpentes a ambientes mais frios e úmidos, faz com que elas busquem outros lugares para se estabelecer quando as temperaturas na mata aumentam. As maiores chances de se encontrar uma cobra em áreas urbanas são em lugares mais afastados e próximos à mata.

Paralelo ao aumento das temperaturas em áreas de mata, seja ele natural ou por consequência direta da ação humana, a urbanização é de fato o principal ocasionador desses choques entre a sociedade e o reino animal.

Há trezentos anos, Cuiabá estende suas fronteiras pelo habitat natural de várias espécies e esse avanço se choca diretamente com o próprio deslocamento das serpentes, ocasionando as já ditas aparições. No passado as serpentes eram bem mais presentes no dia a dia da população, porém isso diminuiu e tende a diminuir cada vez mais à medida que a urbanização avança pelo habitat natural das serpentes, segundo Christiane Strussman, especialista em Herpetologia e professora da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso).

O período de chuvas também é capaz de desabrigar as serpentes, obrigando-as a imigrar para novos lugares, sendo esse mais um fator que colabora para o aparecimento em áreas urbanas.

“As serpentes que aparecem em áreas populosas e/ou centrais como a capital de Mato Grosso são serpentes que não têm veneno. Exatamente como a jiboia encontrada em Sorriso. As espécies de serpentes peçonhentas têm necessidades mais específicas e isso engloba desde alimentação a moradia. Dessa formam elas se mantêm majoritariamente em áreas afastadas e de mata, sendo possivelmente encontradas em áreas rurais, onde o choque entre homem e fauna é mais presente”, explicou.

CUIDADO ESPECIAL
O Corpo de Bombeiros estipula normas que as pessoas devem seguir quando avistam uma serpente. Primeiro de tudo a pessoa deve chamar imediatamente o Corpo de Bombeiros pelo número 193.

É importante que a pessoa isole o local e impeça a proximidade de qualquer pessoa. Quando o Corpo de Bombeiros realiza a captura do réptil e verifica que não há ferimentos, ele é devolvido à natureza. Contudo, quando a serpente apresenta ferimentos, ela é levada diretamente para o Centro de Triagem de Animais Silvestres, no Batalhão da Polícia Ambiental em Várzea Grande, que realiza uma triagem e a encaminha para clínicas veterinárias e universidades conveniadas com a Sema (Secretaria de Estado e Meio Ambiente), para receber tratamento.

De acordo com o tenente Santos Junior, do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, as ocorrências atendidas de capturas de serpentes no ano de 2019 foram 230 e no de 2020 foram 190. "Demonstra que o número de ocorrências atendidas nos dois últimos anos, em termos quantitativos, foi praticamente o mesmo", salientou.

Um pedido que o tenente faz para a população é que não toque nas cobras. "Não pode, pois é muito perigoso. Se não sabe se é ou não peçonhenta, o indicado é ligar imediatamente para o Corpo de Bombeiros que fará o resgate do animal de forma correta".

CRIME AMBIENTAL E EXTINÇÃO
De acordo com o artigo 29 da Lei de Crimes Ambientais é crime matar, aprisionar, lesionar ou de qualquer outra forma, causar mal a algum animal silvestre. A população, muitas vezes movida por medo e desinformação, tende a matar as cobras que encontram e isso vem contribuindo para o crescente número de espécies em extinção.

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), 33 das 400 espécies de serpentes encontradas no Brasil estão sob o risco de extinção. O levantamento foi feito em novembro de 2019.

*Sob orientação da jornalista Cátia Alves

Cuiabá MT, 15 de Outubro de 2024