A cada 10 famílias brasileiras, sete estavam endividadas no mês de junho de 2021, aponta pesquisa nacional sobre endividamento e inadimplência do consumidor, divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O cartão de crédito segue como o principal tipo de dívida, apontado em 81,8% da amostra da pesquisa.
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O comprometimento das famílias com dívidas pode levar à redução da expectativa de consumo e aumentar o risco de inadimplência no futuro. O cenário atual traz um alerta principalmente aos comerciantes do país.
O percentual de famílias endividadas chegou a 69,7%, do total da amostra pesquisada. Depois do cartão de crédito, a renda da população está destinada ao pagamento de dívidas acumuladas em cheque especial, cheque pré-datado, créditos consignados e pessoal, carnês de lojas, prestações de carro e casa. Dentro desse resultado, 14,7% afirmaram que estão muito endividados, 24,6% se dizem ‘mais ou menos’ endividados e 30,4% declaram-se pouco endividados.
Para José Roberto Tadros, presidente da CNC, o orçamento das famílias na pandemia tem sido diretamente comprometido por fatores extras, como inflação mais elevada e o valor reduzido do auxílio emergencial.
“Ainda que os indicadores de inadimplência se encontrem mais baixos na comparação anual, os números mostram que as famílias têm se endividado mais ao longo do ano para conseguir manter algum nível de consumo, respaldadas por uma frágil segurança no mercado trabalho, e preços mais altos dos itens de primeira necessidade”, aponta.
Quanto ao tempo em que essas famílias estão com contas atrasadas, a situação é alarmante: 61,3% confirmaram atrasos. Do total, 41,8% dos respondentes disseram que possuem contas com mais de 90 dias de atraso. Nesta situação está a maioria das famílias com renda mensal menor, de até 10 salários mínimos (43%). Acima dessa faixa de renda, 35% confessaram ter contas atrasadas há mais de 3 meses.
As famílias com renda até 10 salários mínimos foram as que mais recorreram ao crédito no mês de junho. Nesta faixa de renda, 70,7% estavam endividadas, sendo a responsável por puxar o índice para cima. Já no grupo que tem renda acima de dez salários mínimos, o indicador ficou em 65,5%. Em ambas faixas de renda, o resultado do mês de junho foi o maior dos últimos 12 meses.
O endividamento por grupos de renda apresentou novamente tendências semelhantes em junho, com as famílias nos dois grupos de renda atingindo proporções recordes de dívidas.
Izis Ferreira, economista da CNC responsável pela pesquisa, esclarece ainda que o tempo médio de comprometimento do brasileiro com dívidas tem aumentado. Fatores como juros ainda baixos possibilitam esse cenário, pois favorecem a renegociação de dívidas, além de estimular as modalidades de financiamento com prazos mais longos.
“As dívidas das famílias têm se alongado no período acima de um ano. O crédito vem ajudando o brasileiro, atua na recomposição de renda, mas a cada mês nós tememos que o orçamento familiar atinja um patamar de dificuldade que impeça ainda mais o consumo e dificulte a reorganização da economia”, resume a especialista.
REFLEXO DA PANDEMIA - Apesar da distribuição de renda via auxílio emergencial e do acesso facilitado ao crédito, a renda dos brasileiros segue prejudicada pela pandemia.
Conforme dados da PNAD Contínua, no primeiro trimestre de 2021 as horas efetivamente trabalhadas e a proporção de afastados do trabalho não foram afetadas pela segunda onda da pandemia. “Contudo, não foi observada uma continuidade na recuperação dos rendimentos”, descreve o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
“Enquanto muitos grupos apresentaram uma queda dos rendimentos efetivos no quarto trimestre de 2020, as quedas foram amplamente generalizadas no primeiro trimestre de 2021, sendo as mulheres e os trabalhadores com mais de 60 anos as exceções”, aponta o instituto.