A Aprosoja Brasil criticou a decisão da multinacional de laticínios Danone de suspender a compra de soja brasileira. A polêmica surgiu após uma declaração de Jurgen Esser, diretor financeiro da Danone, afirmando que a empresa havia transferido suas aquisições de soja para países asiáticos, citando a preocupação com o desmatamento no Brasil como um dos fatores.
A entidade considerou a medida um ato discriminatório e desinformado contra os produtores brasileiros. Segundo a entidade, a mudança afeta negativamente a economia do país e reflete um preconceito infundado contra a sustentabilidade da produção agrícola brasileira, especialmente em um momento no qual a União Europeia se prepara para implementar o Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR). Esse regulamento exigirá que empresas europeias comprovem que suas importações não têm ligação com áreas desmatadas.
A Aprosoja Brasil defende que os produtores brasileiros não apenas seguem as normas de preservação ambiental, mas são líderes em práticas de conservação.
"Não é de se duvidar que os produtores rurais brasileiros, cansados de serem injustamente apontados como os vilões, comecem a ter motivos de sobra para colocar a Danone e outras marcas mundiais na lista de empresas a serem boicotadas no Brasil", diz nota encaminhada à imprensa.
A Aprosoja também argumenta que a imagem da agricultura brasileira está sendo injustamente comprometida, uma vez que as leis ambientais no país são rigorosas.
“[...] O produtor de soja brasileiro é o único no mundo que preserva o meio ambiente para o Brasil e para a humanidade, deixando de plantar na área preservada para isso. Ou seja, também é o único que está investindo do próprio bolso em preservação ambiental. Comparativamente, os produtores franceses não preservam quase nada”, reforçou a entidade.
O Ministério da Agricultura brasileiro também manifestou sua insatisfação, pedindo à União Europeia "justiça e equilíbrio" nas relações comerciais. Em um comunicado, o ministério destacou que o país possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, obrigando os produtores a conservar de 20% a 80% de Reserva Legal em suas propriedades, além de áreas de preservação permanentes.
Além disso, o Ministério da Agricultura ressaltou que o Brasil vem implementando políticas públicas robustas para combater o desmatamento ilegal em regiões como a Amazônia e o Cerrado. O ministério acredita que a atitude de empresas como a Danone fere a soberania do Brasil, e o governo não descarta levar o caso para a Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Reiteramos que a posição do Brasil é firme quanto a não aceitar regulamentações que ignorem nossos avanços ambientais e sociais, ao impor restrições desproporcionais a produtos brasileiros”, diz a nota.
DANONE BRASIL NEGA
A Danone Brasil afirmou, em nota, que segue comprando soja brasileira em conformidade com as regulamentações vigentes. No entanto, a sede da empresa na França ainda não esclareceu a disparidade entre essa posição e a declaração de Jurgen Esser. A ausência de um posicionamento oficial da matriz francesa sobre a reação da Aprosoja e do governo brasileiro contribuiu para o aumento das críticas, principalmente entre os produtores rurais.
A Aprosoja Brasil defende que qualquer abordagem internacional para combater o desmatamento deve levar em conta a complexidade da questão e as boas práticas já adotadas no Brasil. A entidade reiterou que está preparada para defender a soja brasileira em todas as esferas comerciais e que iniciativas discriminatórias, como a da Danone, têm potencial para prejudicar produtores comprometidos com a preservação ambiental.