Os donos de pequenos negócios no Brasil buscaram duas vezes mais crédito bancários em 2020 do que o ano anterior. A constatação veio da pesquisa anual realizada pelo Sebrae Nacional, que identificou que a busca por empréstimos, nesse grupo, cresceu de 18% dos empresários para 38% nos últimos seis meses. O Pronampe, criado na pandemia pelo governo federal, respondeu por mais da metade dos empréstimos novos, com 55%.
Os recursos foram utilizados principalmente para capital de giro. Entre os novos empréstimos ou financiamentos tomados, 55% foram feitos por meio do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
Os dados constam da 8ª edição da Pesquisa “Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil, produzida pelo Sebrae entre os dias entre os dias 14 de setembro e 11 de novembro de 2020.
No momento mais crítico da pandemia, segundo trimestre do ano passado, também aumentou em 35% o volume de crédito concedido pelos bancos, em comparação com o 2º trimestre de 2019. O valor concedido saltou de R$ 65 bilhões no segundo trimestre de 2019 para R$ 87 bilhões no mesmo período de 2020.
Essa expansão do crédito bancário no ano passado não veio acompanhada pelo aumento do número de novas empresas. A maioria dos que recorreram aos empréstimos já possuíam algum acesso às entidades bancárias.
“O governo federal disponibilizou recursos com juros baixos, mas não foram criadas linhas de crédito, mas sim um sistema de garantias. No entanto, os bancos não mudaram sua sistemática de análise e, por isso, boa parte dos recursos concedidos foram para pessoas que tinham condições para acessar o crédito ou já possuíam uma relação com o banco”, explica Fábio Apolinário, analista técnico do Sebrae-MT.
Para o analista, o volume de crédito adquirido em 2020 aponta para mais endividamento no futuro. Somado a isso está a preocupação com o fim do prazo das prorrogações feitas no ano passado.
“Muitos pegaram recursos na pandemia com carência e agora vão ter que começar a pagar. Na prática, você teve um aumento do endividamento. Empresas que puderam aproveitar os juros e quitar ganharam com isso, mas quem pegou o recurso e deixou para pensar como pagar depois pode enfrentar problemas”, alerta Fábio.
Conforme o levantamento, entre os ramos dos pequenos negócios, a expansão do volume de crédito ficou concentrada nas Empresas de Pequeno Porte (EPP), com 83% das novas concessões, contra 12% das microempresas e 5% no caso dos microempreendedores individuais (MEI).
“As empresas de pequeno porte são mais consolidadas junto ao sistema financeiro e o banco tende a empresar mais a elas, por terem mais tempo no mercado e porque tem faturamento maior neste grupo, ou seja, vendem quinze vezes mais que a micro”, explica o analista.
Veja outros números apresentados pela pesquisa:
*Em 2020, apesar de uma forte contração das fontes de financiamento (extra bancário), aumentou a proporção de pequenos negócios que utiliza recursos de bancos oficiais (de 8% para 13%).
*Número total de pequenos negócios tomadores de crédito passou de 5,8 milhões no 2º trimestre de 2019 para 5,9 milhões no 2º trimestre de 2020.
*Análise da pesquisa desde 2013 (1ª edição), mostra que 2020 registrou a maior proporção de pequenos negócios que tomou empréstimos em bancos como PJ (79%).
*Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil lideram o ranking dos bancos mais procurados pelos pequenos negócios, mas as instituições financeiras não tradicionais, como o Sicoob, Banpará e Sicredi são mais bem avaliadas em termos de satisfação.
*Enquanto a demanda por capital de giro aumentou nos últimos 6 meses, as demais tiveram queda, como por exemplo, empréstimo para reforma ou ampliação do negócio e compra de máquinas e equipamentos.