A combinação entre matéria-prima cara e falta de gado no campo, aliado a um mercado consumidor já bastante enfraquecido, está inviabilizando a operação dos pequenos frigoríficos, que dependem do mercado interno para sobreviver. Como resultado, várias unidades de Mato Grosso e outros estados decidiram paralisar as atividades até que a situação melhore.
O valor da proteína para o consumidor subiu 17,97% em 2020, em média, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Só que para os frigoríficos, a alta na arroba do boi foi bem maior. Nos últimos 12 meses, a arroba do boi gordo registrou valorização de 75,92% em Mato Grosso, saindo de R$ 169,55 em 13 de abril de 2020 para R$ 298,28 na cotação desta segunda-feira (12).
O diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi, explicou ao Estadão Mato Grosso que a conjuntura atual do mercado está dramática para os frigoríficos que dependem do mercado interno, já que preço da matéria-prima não tem evoluído na mesma proporção que o valor do atacado.
Segundo Manzi, a situação já levou algumas plantas frigoríficas a fecharem as portas, enquanto outras unidades optaram por entrar em férias coletivas. Apesar de a situação ser pior para os frigoríficos que dependem do mercado interno, algumas plantas que exportam também tiveram que suspender as atividades devido às dificuldades para comprar o boi gordo.
A situação fica clara na escala de abates da indústria frigorífica de Mato Grosso. No começo de 2020, as fábricas tinham animais suficientes para manter sua operação por até 6,5 dias, chegando à máxima de 7 dias em março de 2020. Atualmente, a escala de abate tem oscilado entre 3,5 e 4,5 dias, conforme dados da série história do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
“Está tendo pouco boi para o abate e também estamos vivendo um ciclo pecuário onde tivemos um abate muito grande de fêmeas nos últimos anos. De 2015 pra cá, muitas fêmeas pararam de produzir bezerros e foram para os frigoríficos, o que culminou na falta de bezerros atualmente”, explicou.
Além da falta de animais para abate, houve um aumento significativo na demanda internacional, tendo a China como principal compradora. Segundo dados do Ministério da Economia, o Brasil embarcou 159.422 toneladas da proteína no mês passado, sendo que 60% deste montante foi parar nos mercados chineses. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve aumento de 8% nas exportações.
“Tem vários fatores que explicam esse ciclo pecuário: a exportação, o dólar está atrativo, a peste suína africana que fez com que a China migrasse da carne suína para a bovina, a falta de bezerro... foi um aumento da procura num momento onde tínhamos pouca oferta”, pontuou Manzi.
O diretor da Acrimat ainda ressalta que o pecuarista não influencia e nem interfere no preço final da arroba do boi, que acaba sendo estabelecido pelos frigoríficos, com base na situação atual do mercado.
“O produtor não põe o preço, o frigorífico é quem fala quanto está pagando, e ele paga mais ou menos, levando em consideração a demanda de abate, tanto do mercado interno quanto do externo”, explicou.
A previsão de Manzi é que o mercado da carne só volte a se estabilizar em 2022, caso haja um avanço mais significativo na produção de bezerros. Até lá, frigoríficos e consumidores terão que ajustar suas contas para lidar com o alto preço da proteína bovina.