Previsão de piora na oferta de gado para abate aumenta preocupação dos frigoríficos brasileiros, que ainda lutam para administrar a pior crise de produção dos últimos nove anos. A falta de animais fez com que a taxa de ociosidade das plantas frigoríficas atingisse, até abril, uma média de 45%. Segundo especialistas, o cenário até o fim do ano aponta para uma piora neste quadro, com a chegada da entressafra.
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A projeção é feita pelos engenheiros agrônomos da Scot Consultoria, empresa também responsável pelo levantamento dos dados no setor. De acordo com eles, a combinação entre escassez de matéria-prima, aumento de custos e um mercado interno enfraquecido já levou os frigoríficos brasileiros a reduzirem em mais de 45% sua produção neste ano. No 1º quadrimestre de 2021, a taxa de ociosidade subiu 94% em relação ao mesmo período de 2020.
O cálculo da taxa de ociosidade dos frigoríficos considera a capacidade de abate diária dos estabelecimentos e a quantidade de cabeças efetivamente abatidas por dia, em porcentagem. “Nos últimos tempos essa quantidade de gado não tem sido suficiente para ocupar a capacidade de abate dos frigoríficos”, apontam Alcides Torres e Eduardo Seccarecio.
As regiões mais críticas foram observadas nos estados da Bahia (53%) e Maranhão (52%), que superaram a média nacional de 45%. Em situação ‘menos pior’ que a nacional estão apenas dois estados, Minas Gerais e Mato Grosso, onde a indústria tem operado com ociosidade de 37% e 38%, respectivamente.
Em curto prazo, o setor contará com o aumento da oferta de animais para o abate, já que a causa dessa retração vem da retenção de fêmeas, as chamadas matrizes, para a produção de bezerros. A preservação das fêmeas acontece porque a geração de bovinos para a reposição do rebanho está compensando mais para os produtores.
“Pode-se dizer que a quantidade de machos que vai para o abate é relativamente regular todos os anos e o que varia é a oferta de fêmeas. Menos vacas indo para o abate, menor oferta de cabeças no mercado”, explicam os analistas da Scot.
As exportações e o consumo interno também têm jogado contra o mercado da carne. Os envios para fora caíram nos cinco primeiros meses deste ano e, no mercado interno, a proteína está cada vez menos acessível para as famílias.
“O volume de carne bovina in natura exportada caiu em relação ao mesmo período de 2020, diminuindo, em função disso, a necessidade da compra de boiadas. Com relação ao consumo de carne no mercado interno, outro fator que influi na ociosidade, não se espera grandes avanços, pois a vacinação da população brasileira contra a covid-19 deverá se estender até o final do ano, não dando refresco para as dificuldades econômicas vigentes, com desemprego e queda de renda”, aponta o relatório.