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Economia Quarta-feira, 14 de Outubro de 2020, 10:50 - A | A

Quarta-feira, 14 de Outubro de 2020, 10h:50 - A | A

EXPANSÃO RÁPIDA

Cuiabá é a ‘vice’ da energia solar

Priscilla Silva

O calor extremo de 2020 fez aumentar a procura por sistemas de energia solar em Cuiabá para balancear a alta vertiginosa nas contas de luz. De julho a outubro, a capital mato-grossense avançou cinco posições no ranking municipal de potência instalada e agora é a 2ª cidade brasileira que mais gera energia elétrica fotovoltaica do Brasil.

As temperaturas elevadas registradas no início da primavera de 2020 fez com que Cuiabá registrasse recordes seguidos de temperatura, atingindo 44°C em setembro. O calorão acima dos 40°C fez com que o consumo de energia também aumentasse, o que refletiu em faturas até 50% mais caras. Prevendo o gasto extra, alguns consumidores decidiram migrar para o sistema de energia solar fotovoltaica, que pode reduzir em até 90% o custo com eletricidade.

“Em geração de energia solar, Cuiabá teve um salto da 7ª posição para o 2º lugar, perdendo apenas para Uberlândia (MG). O setor cresceu muito devido a esse calor absurdo que tivemos aqui. Foram mais pessoas utilizando ar-condicionado, em busca de qualidade de vida. O susto com a conta de energia pesou no orçamento do cuiabano e muitos buscaram alternativas sustentáveis para economizar. Isso fez com que a demanda por sistemas solares crescesse, com aumento no número de instalações”, observa Merivaldo Britto, engenheiro eletricista.

Estima-se que o número de cuiabanos gerando sua própria energia pelo sistema fotovoltaico, na modalidade Geração Distribuída (GD), cresceu 25% em plena pandemia de covid-19. A procura por instalações fotovoltaicas cresceu principalmente em imóveis residenciais e pequenos comércios.

“O comércio pequeno, como mercadinhos e distribuidoras, despertou para a solar. Tivemos um aumento considerável no setor e também entre pessoas físicas, as quais hoje contam com linhas de crédito para financiamentos especiais”, aponta Merivaldo.

Com mais adeptos ao sistema, a capital de Mato Grosso saiu de uma potência instalada de 26,1 megawatt (MW) no mês de julho para 41,6 (MW) em outubro, um aumento de 59%, conforme dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Caso continue nessa velocidade, a expectativa é que até o final do ano Cuiabá supere o município de Uberlândia, hoje líder no ranking municipal com 48 (MW) de potência instalada.

“Cuiabá pode ultrapassar a cidade mineira ainda neste ano; se aumentar sua potência instalada em 8 MW já passa. A solar tem beneficiado todas as classes sociais, principalmente os pequenos. Imagine uma pessoa que recebe um salário mínimo [R$ 1.045] e paga R$ 500 de energia, é praticamente 50% da sua renda”, observa Merivaldo.

Até quem já tem quer instalar mais

O aumento das temperaturas também contribuiu para a inclusão de novos hábitos na população. Idas mais frequentes à geladeira para matar a sede, mais horas de ar-condicionado e outros equipamentos ligados, como umidificador, sobrecarregaram o sistema de energia elétrica nesta primavera de 2020.

Geladeira e ar-condicionado também trabalharam mais para atingir a temperatura programada, o que reflete em aumento na fatura.

“Por isso, as contas de energia devem chegar mais ‘salgadas’. De uma forma geral, estima-se que o calor excessivo influencia num aumento de cerca de 20% no consumo de energia. Isso com os mesmos aparelhos sendo utilizados na mesma quantidade de horas de dias normais”, explica o engenheiro eletricista Teomar Estevão Magri.

Ainda conforme Teomar, pelas horas de uso a mais, o consumo pode aumentar em torno de 50%, dependendo do perfil do consumidor e da quantidade de equipamentos que utiliza. Soma-se a isso a tributação de ICMS, que em Mato Grosso é aplicado por faixa de consumo. Ou seja, consumo maior resulta também em uma taxa maior de tributo.

Esse aumento na conta de energia afetou até mesmo quem já tinha um sistema solar instalado em casa, como na casa de Donizetti Oliveira, que há dois anos instalou 11 módulos solares. Na época, Donizetti deixou de comprar um carro para pagar à vista o sistema fotovoltaico. O objetivo era reduzir o custo com energia elétrica, sem abrir mão do conforto da família. Com isso, a conta que antes chegava a R$ 500 por mês, passou para uma média de R$ 80, com pagamento de taxas da rede elétrica. Com a economia na conta de luz, foi possível economizar e comprar o carro dois anos depois.

“Valeu a pena instalar, mas já estou pensando em aumentar o número de placas, pois o meu consumo aumentou desde então, com a mudança do meu sogro, que precisa de cuidados médicos”, relata Donizetti.

Para dar conforto ao novo morador, a família precisa manter um ar-condicionado ligado quase 24 horas por dia. Somado ao aumento do consumo com o calorão, a conta de energia assustou. “Desde que instalei, o consumo mudou e aumentou bastante. Paguei R$ 600 de energia no mês passado. Agora penso em aumentar pelo menos mais uns oito módulos, para aumentar a potência”, relata Donizetti.

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