A temporada da soja 2020/21 teve um início conturbado em razão da estiagem mais prolongada do ano passado e pesou na decisão do produtor. Alguns arriscaram e semearam a seco, outros foram mais pacientes e esperaram as primeiras chuvas para plantar. Chegada a reta final, os produtores colocam na balança as consequências de suas decisões.
No caso de produtores mais ousados, que lançaram grãos na poeira, contando que a chuva não tardaria, começaram a lista dos prejuízos já no começo do plantio. De acordo com o Imea, cerca de 2,51% das áreas de Mato Grosso, 260 mil hectares dos 10,30 milhões previstos, precisaram ser replantadas. Além disso, “as áreas precoces ficaram, em parte, com potencial produtivo comprometido”, afirma o instituto.
Já quanto aos sojicultores mais pacientes que esperaram as chuvas, agora estão sendo recompensados pelas chuvas mais volumosas. Mas o elevado volume de chuvas tornou-se o maior desafio. A intensificação dos trabalhos nas lavouras conseguiu superar a metade da colheita e atingiu 52,14%, na última sexta-feira (26), mas está aquém dos resultados da safra anterior.
Para o instituto de pesquisa, ao pesar na balança os resultados das decisões dos produtores, a safra 20/21 caminha para um final registrando aumento de sua produtividade média. “As chuvas e a luminosidade desde dezembro permitiram às áreas mais tardias chegarem ao final do ciclo com bom ou ótimo potencial produtivo. Com isso, e considerando que mais da metade das áreas do estado já foram colhidas até a última sexta-feira (26) a estimativa para a produtividade média da soja foi acrescida em 0,40 sc/ha, passando a ser agora de 57,81 sc/ha”, destaca.
Com esse incremento na produtividade, a expectativa para a produção também foi elevada para 0,70% no estado. Assim, a produção passa a ser esperada em 35,74 milhões de t, quase 1,00% superior à temporada 19/20, que havia sido o recorde até então.
“Mesmo com a seca no ano passado e as perdas de qualidade de grão em algumas lavouras (com o excesso de chuva na colheita), até o momento as produtividades não estão desagradando tanto o produtor. O problema agora está na segunda safra”, destaca o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
COLHEITA
A retirada dos grãos da soja dos campos mato-grossenses conseguiu um avanço significativo na última semana, de 17,63 pontos percentuais, mas está longe do desempenho do ano passado que, no mesmo período, registrava 84,10% da safra colhida. Apesar dos desafios, há otimismo para o resultado final da safra 2020/21.
Dentre as setes regiões do estado, o menor percentual colhido está nas cidades do centro-sul, com 33,54% das áreas, por influência das chuvas nas últimas semanas. Já a região que apresenta o maior percentual colhido é a oeste, com 65,94%.
Logística ainda é desafio
Inaugurada há quase 50 anos, a BR-158 tornou-se um importante corredor de escoamento das safras dos produtores do Vale do Araguaia, em Mato Grosso. Porém, a falta de asfalto de um trecho de cerca de 120 quilômetros desafia os caminhoneiros que trafegam na região. Os registros de atoleiros no local repetem-se ano a ano.
A principal discussão para dar início à pavimentação na região deve ser feita junto aos donos das terras, que devem ser impactadas pelas obras: o território indígena Marãiwatsédé. Somente após a conclusão do diálogo entre governo federal e população indígena e demais interessados, será possível emitir o licenciamento ambiental pendente.
Para minimizar os prejuízos causados pela falta de pavimento na rodovia, a bancada federal de Mato Grosso marcou reunião nessa quarta-feira (03), às 17h de Brasília com o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, mas até a finalização desta matéria não havia resultados.
Conforme os parlamentares da bancada, o mote do encontro é para buscar uma solução emergencial para a situação da BR-158, no Norte Araguaia, “onde a rodovia se transformou em um atoleiro, praticamente impossibilitando o tráfego de pessoas e o escoamento de produção rural”.
“A situação da BR-158 é lamentável, virou um atoleiro. Ninguém consegue passar com carro pequeno e está impossível escoar a produção rural, seja de grãos ou animais. O Norte Araguaia está praticamente isolado. O governo federal precisa fazer uma manutenção de emergência, ou o isolamento por via terrestre vai ser completo”, afirmou o coordenador da bancada de MT, Dr. Leonardo (Solidariedade-MT).
O grupo ressaltou que a reunião da reunião não sairá definições sobre a situação da pavimentação da BR-158, ainda emperrada por problemas de trajeto – sem definição se será por dentro ou circundando a Terra Indígena Marãiwatsédé – e por licenciamento ambiental. Além disso, o governo federal não previu recursos para nenhuma obra na rodovia em 2021 no orçamento.