A previsibilidade de um orçamento para um novo auxílio emergencial em 2021 pode gerar impactos no faturamento do comércio local. Nessa quinta-feira (4), o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a nova ajuda deverá ser restrita para metade dos que receberam o auxílio no ano passado e condicionada à situação de calamidade pública. O aceno para continuação do programa cria expectativas no setor do comércio em Mato Grosso.
Mais de 67 milhões de pessoas receberam o auxílio emergencial em 2020. O programa criado para socorrer os trabalhadores informais, que perderam suas ocupações na pandemia, foi oficialmente encerrado no dia 31 de dezembro do mesmo ano. A extensão do benefício já conta com o aval dos novos líderes do Congresso Nacional.
Para continuar o pagamento do auxílio, os governos federais impõem condições. Uma delas é a excluir dos pagamentos quem já recebe o Bolsa Família. A estimativa é que o novo programa atinja apenas 32 milhões de pessoas, metade do ano passado.
“É possível. Nós temos como orçamentar isso, desde que seja dentro de um novo marco fiscal. Se o Congresso aciona o estado de calamidade, temos condição de reagir rapidamente. Mas é muito importante que seja dentro de um quadro de recuperação das finanças. Estamos preparados para fazer as coisas dentro das proporções”, declarou Guedes.
PERDAS AMENIZADAS
Com a distribuição da renda no ano passado, as perdas econômicas geradas pela pandemia foram amenizadas. O pagamento do auxílio emergencial injetou mais de R$ 290 bilhões na economia do país.
“Essa foi a medida mais acertada do governo em 2020. Foi um dinheiro injetado na base, para os mais vulneráveis, que começou movimentando os comércios de bairro e teve um efeito em cadeia atingindo o comércio em geral”, aponta Manoel Procópio, vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso (Fecomércio-MT).
A empresária Gilvana Magalhães, proprietária da Fábrica Festa, em Cuiabá, é uma das comerciantes que observou que o benefício social contribuiu para sobrevivência de seu negócio em 2020. No período, o estabelecimento teve redução de 40% das vendas e, para não fechar as portas, chegou a vender balões por unidade para se ajustar às necessidades do consumidor.
“Imagine, o balão que vendemos em pacotes, passamos a vender avulso e isso aconteceu em outras lojas do meu segmento. Vivemos no limite dessa situação de adequar as necessidades do negócio e sobrevivemos, se não fechamos até agora, não vamos fechar mais”, afirma a empresária.
No entanto, com o fim dos pagamentos em dezembro passado, a empresária já previa em seu planejamento um ano de mais dificuldades.
“Para este ano ficou difícil mensurar, porque antes tínhamos o auxílio emergencial e muita gente que vinha comprar na loja era com esse recurso. Então, acredito que este ano vai ser mais difícil e o nosso planejamento é de que não tenhamos crescimento em 2021. Queremos, no mínimo, manter o volume de vendas do ano passado; se conseguirmos superar este ano com muita criatividade, vamos estourar lança-confetes no final do ano”, brinca Gilvana.
Para o porta-voz do setor, Manoel Procópio, o comércio tem pressa para que a extensão do auxílio emergencial saia do papel. “Isso tem que acontecer até março porque senão muitos irão se endividar e isso não é bom para a economia. Lembrando, também, que foi com esse recurso que muitos comerciantes conseguiram sobreviver e é ele que ajudará o comércio a não ficar pior do que o ano passado”, alerta.
AUXÍLIO EMERGENCIAL - O benefício começou a ser pago em abril, em três parcelas mensais de R$ 600 e, no mês de junho, prorrogado por mais duas parcelas. No início de setembro, o governo comunicou outros quatro meses de pagamentos, com parcelas menores de R$ 300, até 31 de dezembro. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o auxílio emergencial representou mais da metade dos esforços fiscais das ações de combate aos efeitos da pandemia no ano passado.