Secretário de Ordem Pública de Cuiabá e coronel da reserva da Polícia Militar, Leovaldo Sales acredita que tenha sido vítima de racismo no processo que tentou incriminar ele e mais cinco policiais pela execução do detento Cláudio Andrade Gonçalves, que fugiu do presídio do Carumbé após uma rebelião em 1996. Em entrevista coletiva na última terça-feira, 7, um grupo de advogados que compõe a defesa do militar aposentado expôs as contradições que levaram o júri popular a declarar a inocência de Sales e dos demais.
Ao ser questionado sobre os motivos para tal perseguição, Sales disse acreditar que ocorreu uma manobra para atrapalhar sua ascensão na carreira militar. Sales é ex-comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso e criador do Grupo de Operações Especiais de Fronteiras (Gefron).
"Tenho certeza. As provas fraudadas mostram isso, sem dúvida nenhuma. Essas acusações, se nos impetrarmos com uma ação de reparação de danos, essas pessoas irão aparecer. Mas eu vou analisar isso com minha família e advogados. Essa situação foi desgastante e sofredora e é irreparável. Não tem dinheiro que limpe isso. Eu estou inocentado e não devo nada à Justiça. Quero dizer a essas pessoas que existe uma Justiça superior à daqui e aqueles que forjam provas, desta Justiça não escapa. Um dia haverá um tribunal e um dia todos saberão de tudo", disse.
O advogado Raul Marcolino, reforça a tese de racismo institucional.
"Um coronel negro. Isso é a guerra do racismo. A mãe dele era lavadeira, ele negro. Quantos coronéis negros temos? Pouquíssimos. E quanto está na ascensão? É nítido, é um racismo institucional que incomodou. O Sales foi comandante-geral da PM, criou o Gefron, e hoje ocupa um cargo de secretário de Ordem Pública. Incomoda e continua incomodando. Se essas pessoas forem identificadas poderão responder pelas atrocidades cometidas", disse.
Além de Sales, também foram absolvidos os policiais militares Douglas Moura Lopes, José Luiz Vallejo Torres, Angelo Cassiano de Camargo e Mariano Mattos do Nascimento. O advogado Wanderley Alves ressalta que o julgamento deixou claro que é sempre importante duvidar de uma primeira informação.
"Quando foi feito um exame de DNA, a estratégia defensiva foi questionar o DNA. Um erro foi encontrado no DNA da pessoa que diziam que era o Cláudio, por isso, nunca podemos confiar na primeira informação. A nossa perícia esclareceu tudo isso. O Cláudio deve estar por aí, vivo”.
Sergio Hernández, especialista em Perícia Criminal e Balística Forense, conta que foram encontradas várias falhas no processo que, segundo ele, não têm materialidade.
"A perícia tem que cumprir dois objetivos: a materialidade, que a vítima estava morta, e segundo ponto identificar de forma inequívoca a vítima e a autoria. O caso em si, o Ministério Público, que é o fiscal da lei, baseou-se numa prova de DNA feita em 1997, que foi encaminhada para a perícia na Unicamp, em São Paulo. E a perícia não deveria ser feita em uma universidade, mas por perito oficial. Outro ponto crítico que derrubou a denúncia foi a causa da morte, que foi indeterminada. Porque a denúncia diz que o Cláudio foi morto por execução, mas a vítima que foi identificada foi a óbito 70 dias antes, um mês antes da fuga. Não poderia ser o Cláudio. E a roupa não era a mesma, porque a vítima (o cadáver) que foi encontrada estava de calça jeans e nem estava com marcas de execução. E o Cláudio estava de bermuda. Fica o questionamento: a perícia foi falha?", diz o perito criminal.