O colapso da rede de saúde causado pelo agravamento da pandemia do novo coronavírus já era grave o suficiente, mas, como estamos no Brasil, há sempre uma forma de complicar ainda mais a situação. Em meio ao pior momento da pandemia, um fornecedor de oxigênio hospitalar decidiu mudar sua estrutura logística de uma hora para a outra. Com isso, cerca de 50 cidades em Mato Grosso podem ficar sem oxigênio para tratar os pacientes graves de covid-19.
É cada vez mais difícil achar uma palavra que ajude a descrever o atual momento. Colapso parece pouco para o que está acontecendo em todo o país, com a explosão dos casos de covid-19. Faltam medicamentos, profissionais, leitos de UTI e, sobretudo, uma liderança nacional efetiva. Teremos pela frente cerca de 60 dias bastante sombrios, talvez os mais amargos que esse país já enfrentou, já que o registro de novos casos continua aumentando.
Via de regra, as hospitalizações acontecem cerca de 15 a 20 dias após a infecção, o que significa que os dados de contágio apresentados hoje levarão pelo menos mais uma semana até desaguar nas salas de emergência dos hospitais. Só que o sistema de saúde já não consegue mais atender à crescente demanda, o que tem levado à suspensão do atendimento médico não-emergencial em vários municípios de Mato Grosso. Pacientes com quadros graves de covid-19 já estão sendo enviados de volta para casa, pois não há como atendê-los, conforme noticiou a versão digital do Estadão Mato Grosso.
Já passou a hora de o Ministério da Saúde alinhar com Estados, Municípios e a indústria nacional os esforços necessários para enfrentar o vírus. Vivemos mais de um ano de pandemia, mas até hoje o governo federal segue batendo cabeça, como se estivesse perdido em meio ao tiroteio. A falta de organização e de uma liderança efetiva custa caro para a nação, um preço que é pago diariamente com muitas vidas.
No domingo (21), mais de 300 especialistas da área econômica divulgaram uma carta aberta defendendo medidas mais rígidas para conter o avanço da pandemia no Brasil. Segundo eles, essa é a melhor forma de garantir a retomada do crescimento econômico e a geração de empregos. Eles também destacam que não é verdadeiro o dilema de “salvar a economia x salvar vidas”, já que a retomada econômica depende de confiança dos investidores, que só virá quando houver melhora na situação sanitária do Brasil.
Torcemos para que o alerta da área econômica finalmente toque a consciência das lideranças nacionais, para que se organizem e passem uma mensagem única à população. A disputa política em plena pandemia só tem causado prejuízos ao país, sobretudo por causa daqueles setores que fazem uso de informações falsas para desacreditar aqueles que verdadeiramente estão trabalhando contra o vírus.
O Brasil precisa respirar.