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Opinião Sexta-feira, 23 de Abril de 2021, 11:53 - A | A

Sexta-feira, 23 de Abril de 2021, 11h:53 - A | A

EDITORIAL - 23/04/2021

Palavras ao vento

O Brasil desperdiçou mais uma chance de melhorar sua imagem perante o mundo na Cúpula de Líderes sobre o Clima, organizada pelo governo do Estados Unidos nesta quinta-feira (22). A avaliação geral é que o país saiu ainda mais desacreditado do que quando entrou, já que a maior parte do discurso do presidente Jair Bolsonaro foi focado em dados incorretos e conjecturas que não têm pé na realidade, além de fazer mais uma nova rodada de promessas que dificilmente serão cumpridas, a julgar pelo que tem demonstrado até aqui.

Diante dos maiores líderes mundiais, Bolsonaro prometeu dobrar o investimento em fiscalização e combate ao desmatamento ilegal, algo que claramente não está em sintonia com as ações de seu governo até agora. O Orçamento proposto para o Ministério do Meio Ambiente em 2021 é o menor desde o ano 2000, com meros R$ 1,72 bilhão. A título de comparação, Mato Grosso destinará R$ 185 milhões, valor proporcionalmente muito superior ao que se dispôs o governo federal. Além disso, o governo Bolsonaro cortou 27,4% dos recursos destinados para a fiscalização ambiental.

Importante destacar, no entanto, que nem tudo é questão de dinheiro. O Brasil poderia fazer muito mais pela preservação ambiental se tivesse vontade política para tal, o que não se vê no atual governo. Exemplo disso é a atuação do ministro Ricardo Salles, a quem caberia liderar os esforços pela preservação, durante a maior apreensão de madeira da história da Amazônia. Em vez de apoiar a ação da Polícia Federal, Salles fez críticas à operação. Acabou acusado pelo ex-chefe da Polícia Federal do Amazonas de atuar para favorecer os madeireiros clandestinos, o que resultou em demissão. Do delegado, não do acusado.

Desde o começo da atual gestão, a pasta do Meio Ambiente tem passado por constantes dilapidações, reduzindo pouco a pouco os valores destinados às suas ações, o que tem ‘queimado o filme’ do Brasil no exterior e reduzido o aporte de recursos internacionais. Lembremos que, em 2019, Salles tentou mudar as regras do Fundo Amazônia para indenizar proprietários de terras, em vez de bancar operações especiais que ajudariam a preservar o maior patrimônio ambiental brasileiro. A proposta não agradou nem um pouco a Noruega e a Alemanha, maiores doadores do Fundo, que resolveram suspender seus aportes.

Nesta quinta, Bolsonaro resolveu mendigar aos líderes mundiais. Passou mais de metade do seu tempo de discurso pedindo dinheiro, quando não estava se defendendo dos problemas que o próprio governo criou para si ao apoiar abertamente grileiros, desmatadores e garimpeiros ilegais. Importante também descartar que os problemas ambientais brasileiros têm trazido impactos não apenas para a pasta do meio Ambiente, mas para toda a economia nacional e americana. O acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul encontra-se travado por causa da postura ambiental brasileira.

Calejados de tantas promessas vazias, os americanos até estão dispostos a colaborar com os esforços brasileiros para preservação da Amazônia. Mas antes, querem que o Brasil haja por conta própria, como forma de testar a real vontade política do governo federal.
O grau de descontentamento com as políticas ambientais do governo Bolsonaro é tamanho que 24 governadores brasileiros enviaram carta ao presidente Joe Biden, fazendo seus próprios compromissos à parte e pedindo cooperação dos EUA no combate aos crimes ambientais no Brasil. O recado é explícito: o que o governo está fazendo com o meio ambiente não representa a vontade dos brasileiros.

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