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Opinião Sábado, 15 de Maio de 2021, 11:08 - A | A

Sábado, 15 de Maio de 2021, 11h:08 - A | A

EDITORIAL - 15 E 16/05/2021

Sem armas para a guerra

Responsável por dois terços das vacinas contra covid-19 já aplicadas no Brasil, o Instituto Butantan está de mãos atadas na guerra contra o vírus. Ao entregar, nesta sexta (14), o lote de 1,1 milhão de doses, o instituto anunciou que a produção está suspensa por tempo indefinido devido à falta no Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), que é produzido na China. Para retomar a produção, é aguardada a liberação de um lote com 10 mil litros do IFA, suficiente para produzir 18 milhões de doses. Só que não há data para isso.

A notícia é uma bomba para o deficiente programa de imunização brasileiro. A falta de doses da Coronavac já fez o ritmo de vacinação cair pela metade. A média diária de vacinados saiu de 995 mil no dia 29 de abril para 429 mil na última quarta (12), conforme dados do "Our World in Data", projeto ligado à Universidade de Oxford. Com a redução de 57% em apenas 2 semanas, o Brasil caiu de 4º para 8º país que mais vacina. A China lidera o ranking, com uma média de 9,23 milhões de aplicações diárias.

A diretoria do Instituto Butantan tem atribuído a escassez de IFA aos constantes ataques do presidente Jair Bolsonaro contra a China. No episódio mais recente, em 5 de maio, Bolsonaro acusou os chineses de promoverem uma guerra biológica, repetindo informações que já foram desmentidas diversas vezes por órgãos internacionais, inclusive do maior rival dos chineses, os Estados Unidos.

O vírus é um inimigo comum de toda humanidade e não escolhe raça, cor ou orientação política de suas vítimas. Neste momento, a tarefa mais urgente é que os países trabalhem canais de cooperação para garantir a vitória sobre a pandemia o mais rapidamente possível. E como bem sabemos, essa vitória só vira por meio da vacinação em massa. O fracasso de uma só nação na guerra contra o vírus significa um risco enorme para todo o mundo.

Ao menos há um sinal de alívio no meio desta cruzada ideológica. A Fiocruz informou que conseguiu liberação do governo chinês para o embarque de uma nova carga do IFA no próximo sábado, dia 22 de maio. O gesto mostra que há vontade de colaborar, embora o Brasil esteja sendo passado para trás na lista de prioridades devido à constante necessidade que nossas autoridades têm de ficar comprando brigas desnecessárias. Precisamos de vacinas, mesmo que para isso seja necessário apertar a mão do cramunhão.

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