A aceleração da inflação deixou de ser um problema único das classes mais pobres em fevereiro e passou também a pesar no bolso do povo do ‘andar de cima’. Diferente dos meses anteriores, o aumento nos preços atingiu todas as cinco faixas de renda que são estudadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Aliás, avançou ainda mais rápido para a população considerada ‘alta renda’, que até então havia sido poupada dos impactos negativos da crise do coronavírus.
Como era de se esperar, o vilão da vez foi o preço dos combustíveis. Isso fez com que a inflação saltasse 0,98% para a população de alta renda entre janeiro e fevereiro, ao passo que a população de baixa renda conviveu com um impacto de 0,67%. Ainda assim, a taxa de inflação das famílias mais pobres (6,75%) segue bem acima da observada no segmento mais rico da população (3,43%).
A análise do Ipea aponta para uma aceleração da inflação em 2021, em sintonia com o que têm dito os analistas do mercado. Já há projeções de até 5% de inflação ao final do ano, mesmo com as tentativas do Banco Central de conter a alta dos preços ao elevar a taxa básica de juros, a Selic. Esse mesmo grupo projeta que a Selic chegará a 5% até o final de 2021.
Os números da economia dão um sinal claro de que o antagonismo criado entre saúde e economia não é tão verdadeiro quanto querem fazer crer seus defensores. Não há como recuperar a economia enquanto a situação sanitária permanecer fora de controle, como está. Não há como garantir aos investidores internacionais que seu dinheiro estará seguro no Brasil enquanto as pessoas morrem aos montes diariamente e o país se torna um risco sanitário para todo o mundo. Ou seja, a pressão do dólar sobre a inflação permanecerá.
Há que se lembrar ainda que a maior causa para a alta da moeda americana não vem propriamente da economia. Basta ver que a cotação do dólar caiu 12 centavos em poucos minutos após o presidente da Câmara, Arthur Lira, descartar riscos ao teto de gastos com a votação da PEC Emergencial, um resultado que o Banco Central não conseguiu alcançar com seus leilões de swap cambial.
Com o avanço da pandemia forçando o fechamento de empresas e a paralisação das grandes indústrias brasileiras, a situação econômica brasileira fica ainda mais frágil. Nesse cenário, mais valia uma intervenção urgente, por mais drástica que seja, do que seguir sangrando o país aos poucos, como tem acontecido. Enquanto nada é feito, continuaremos sendo sugados por buraco negro.