Em meio à matança desenfreada que o novo coronavírus tem causado e às sequelas da pandemia na economia, a notícia de que o censo foi cortado das prioridades do governo passou batida para muita gente, embora não devesse. O apagão estatístico causado pelo corte da mais importante pesquisa sobre a população brasileira causará impactos negativos por um longo tempo, principalmente agora que precisamos traçar políticas públicas eficientes que ajudem a garantir a recuperação econômica pós-pandemia.
- FIQUE ATUALIZADO: Entre em nosso grupo de WhatsApp e receba as notícias em tempo real (clique aqui).
O levantamento que tradicionalmente é feito a cada virada de década foi suspenso em 2020 por motivos óbvios. Diante da emergência pandêmica tão nova à época, não era plausível que pesquisadores fossem bater de porta em porta para passar um questionário à população. Um ano depois, conhecendo cuidados necessários para evitar contágios, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já tinha elaborado protocolos capazes de garantir o recenseamento sem causar uma nova crise sanitária. Não contava, porém, com a sagacidade de nossa classe política, que preferiu converter os recursos do censo em emendas parlamentares do que conhecer a realidade brasileira.
O que se sucedeu na aprovação do Orçamento deste ano foi um escárnio tamanho que a própria presidente do IBGE não conseguiu engolir e preferiu deixar o cargo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, tenta empurrar para o Congresso Nacional a responsabilidade por tamanha falta, mas uma análise em nossa história recente mostra que o conhecimento sobre a realidade da população brasileira jamais foi uma prioridade. Em 2019, Guedes já havia dito que era necessário cortar algumas questões do censo, sob o argumento de que “perguntar demais poderia revelar coisas que nem queria saber”. Ignora o fato de que o censo brasileiro é uma referência mundial, devido à qualidade e complexidade de seus dados.
Como tem feito com várias outras questões de responsabilidade do governo federal, Mato Grosso pode tomar para si a responsabilidade de fazer o censo no estado. Afinal, os prejuízos que a desatualização desses dados pode trazer são especialmente grandes para um estado que cresce em velocidade tão rápida quanto o nosso. Entre outras coisas, os dados do censo são utilizados para definir investimentos públicos e repasses de recursos federais necessários para garantir a prestação de serviços essenciais à população, como Saúde e Educação.
Superar os efeitos da pandemia exigirá informações de qualidade sobre a população e as dificuldades que ela enfrenta, para que sejam traçadas medidas eficazes na corrida pela recuperação. Mato Grosso pode largar na frente, mais uma vez, ao tomar as rédeas da situação.