Um dos mortos foi o policial civil André Leonardo de Mello Frias, da Delegacia de Combate à Drogas (Dcod). A Polícia Civil diz que os outros 24 assassinados são suspeitos de integrar o crime organizado, mas não revelou as identidades ou as circunstâncias em que foram mortos.
O sociólogo Daniel Hirata, do Geni/UFF, classifica a operação como inaceitável e diz que é mais grave do que chacinas como a de Baixada Fluminense, em 2005, ou a de Vigário Geral, em 1993.
"Essa que foi a operação mais letal que consta na nossa base de dados, não tem como qualificar de outra maneira que não como uma operação desastrosa (...) É uma ação autorizada pelas autoridades policiais, o que torna a situação muito mais grave".
Ele diz que, segundo os moradores, a ação se tornou mais violenta após a morte do policial e que ficou "incontrolável".
Em nota, a Polícia Civil disse que fez uma operação contra o crime organizado e que comunicou o Ministério Público sobre a ação. O MP foi procurado pelo G1 para confirmar a informação, mas ainda não respondeu.
Desde junho do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu operações em favelas durante a pandemia. A decisão permite ações apenas em "hipóteses absolutamente excepcionais" e com o aval do Ministério Público.
“Temos uma cadeia de responsabilizações que precisa ser apurada. Se trata de uma operação policial, um caso gravíssimo de violência de Estado. Não é grupo de extermínio, maus policiais, milicianos, é uma operação autorizada pelas autoridades. E tudo isso em um momento em que há a determinação de suspensão das operações policiais nas comunidades pelo Supremo Tribunal Federal”, diz o especialista.
Estudo: letalidade não diminui violência
Um levantamento de 2019, feito pelo Ministério Público, mostrou que o aumento da violência policial não diminui a ocorrência de crimes ou de homicídios no Rio. O estudo conclui que:
- letalidade policial não provoca redução de homicídios e roubos
- Rio tem a polícia mais letal, mas está entre os 10 mais violentos
- áreas onde há maior redução de assassinados não tiveram aumento de mortes por policiais
- ações policiais esporádicas não foram capazes de reduzir o problema da segurança pública
- confrontos aumentam risco de matar inocentes e afetar serviços públicos
Pelas redes sociais, moradores do Jacarezinho relataram mais mortes que as computadas, além de corpos no chão, invasão de casas e celulares confiscados. À tarde, eles chegaram a fazer um protesto na comunidade.
Dois passageiros do metrô foram baleados dentro de um vagão da linha 2, na altura da estação Triagem, e sobreviveram (veja no vídeo acima). Um morador foi atingido no pé, dentro de casa, e passa bem. Dois policiais civis também se feriram.
Ações com mais mortos desde 2007:
06/05/2021 - Jacarezinho - 24 mortos civis + 1 policial civil morto + 5 feridos (2 deles policiais)
28/06/2007 – Complexo do Alemão - 19 mortos civis
08/02/2019 - Fallet/Prazeres - 13 mortos civis + 1 ferido civil
15/05/2020 - Complexo do Alemão - 13 mortos civis
15/10/2020 - Vila Ibirapitanga (Itaguaí) - 12 mortos civis (incluindo um ex-PM)
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informa que está acompanhando "com muita atenção os desdobramentos da operação".
"Neste momento, a instituição está no local, por meio de sua Ouvidoria e do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, ouvindo os moradores e apurando as circunstâncias da operação, a fim de avaliar as medidas individuais e coletivas a serem adotadas. Desde já, manifestamos nosso pesar e solidariedade aos familiares de todas as vítimas de mais essa tragédia a acometer nosso estado."
Em nota, a ONG de Direitos Humanos Instituto Igarapé criticou a ação.
"É inaceitável que a política de segurança pública do estado continue apostando na letalidade como principal estratégia, sobretudo em áreas vulneráveis. Privilegiar o confronto indiscriminado coloca nossa sociedade e nossos agentes públicos em perigo".
* Estagiário sob supervisão de José Raphael Berrêdo.