A Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Cuiabá (DEDM), publicou nesta quinta-feira (20) o relatório estatístico e análise dos atendimentos na DEDM em 2019. Entre os dados compilados em 49 páginas, consta que o bairro Pedra 90, foi o bairro que mais registrou ocorrências de crime contra a mulher, sendo 102 casos registrados, o que representa 3,44% dos casos.
O Pedra 90 segundo o anuário, juntamente com outros nove bairros representam 20% dos atendimentos por parte da DEDM. Outros bairros que acompanham o Pedra 90 nos índices de violência contra a mulher, são; Doutor Fábio Leite, Dom Aquino, Tijucal, Jardim Imperial, CPA III, Nova Esperança, Centro Sul, CPA IV e Parque Cuiabá.
Já em relação ao perfil das vítimas atendidas, a delegacia levantou que 27,5% dos atendimentos são à mulheres declaradas solteiras, seguidas das casadas e separadas. Além disso, está compilado no perfil que 49,4% dos atendimentos em 2019 foram de vítimas declaradas pardas.
Em relação a idade das vítimas, a polícia levantou que a maioria das vítimas de violência estão na faixa etária dos 35 aos 45 anos, seguidas de mulheres dos 30 aos 34 anos.
A delegada titular da DEDM de Cuiabá, Jozirlethe Criveletto, explica que além da análise trazida pelo documento, que está na terceira edição, o objetivo também é dar transparência às atividades da unidade policial e contribuir com a pesquisa, avaliação das políticas públicas no enfrentamento à violência de gênero e reflexão por parte dos organismos que congregam as ações de defesa dos direitos da mulher.
“A exemplo dos anos anteriores, essa é uma construção que abrange vários profissionais totalmente comprometidos e capacitados na temática, imbuídos em um propósito de colher o maior número de dados para uma compilação e análise com seriedade e qualidade, buscando oferecer um trabalho de referência aos profissionais de segurança pública e aos demais setores que possam eventualmente necessitar”, detalhou.
Gilberto Leite
Outro detalhe que chamou a atenção no perfil das vítimas, é que a maioria das mulheres vítimas de violência declara como ocupação Do lar (donas de casa) e com apenas o ensino médico completo. A maioria das vítimas agredidas, quando atendida pela delegacia, também informou não possuir vínculo com o agressor. Com isso, a delegacia levantou que a vítima costuma romper o relacionamento após as agressões.
Possivelmente foi a decisão tomada por Oriany dos Santos Barbosa, 28, que estava desaparecida desde o último domingo (16) e foi encontrada morta e com o corpo em decomposição na tarde de quinta-feira em um matagal no bairro Capão do Pequi, na zona rural de Várzea Grande.
Após o sumiço de Oriany, a família da vítima procurou o setor de desaparecidos da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e informou sobre o desaparecimento de Oriany. A mãe da jovem informou que a filha deixou um bilhete escrito “Se eu sumir, foi o Diego”. O suspeito seria o rapaz com quem sua filha estava se relacionando, mas que já buscava por um fim relacionamento e temia por sua vida.
Até o momento ele - que já possui passagens criminais por outros delitos - não foi localizado.
PERFIL DOS SUSPEITOS
A DEDM também levantou o perfil dos suspeitos. Em sua maioria são homens pardos, solteiros e na faixa etária dos 35 aos 45 anos. Grande parte dos agressores não informa a sua escolaridade e os que relataram, 27% informaram ter o ensino médio completo e a maior parte dos suspeitos é formada por homens desempregados.
Os que declararam ter uma profissão, lideram o ranking de denúncias pedreiros e empresários, ambos com 110 denúncia cada.
Em 2019, a Delegacia da Mulher realizou 3.022 procedimentos relacionados a vítimas femininas de violência doméstica e sexual. Esse número representa 4% a mais que os atendimentos do ano anterior, quando foram feitos 2.914 procedimentos. A delegada destaca que em cada procedimento pode haver mais de uma vítima feminina. O mês de novembro foi o período com mais procedimentos, chegando a 305.
O dia da semana com mais número de ocorrências é a quarta-feira, com 15,7%, o que representa 464 ocorrências registradas, seguido pela segunda-feira, com 15,1%.
O maior número dos casos atendidos foi registrado no período noturno, com 31,6%, ou 936 fatos ocorridos entre 18h e 23h59. Se somados às ocorrências da madrugada (8,9%), esse percentual alcança mais de 40% dos registros atendidos na delegacia.
O crime de ameaça continua sendo o de maior incidência entre as denúncias registradas na Delegacia da Mulher de Cuiabá, com 58,9%, seguido por injúria, que representa 54,4% e lesão corporal, com 16,5%.
PROVIDÊNCIAS
Grande parte do atendimento da DEDM em 2019 foi relacionada a atendimento sócio jurídico e requisição de medidas protetivas. A delegacia também detalha por meio do anuário, que é muito baixo o número de vítimas que comparecem somente para efetuar a representação criminal e abrem mão de requerer as medidas protetivas.
O estudo estatístico chama à atenção, para a questão da dependência financeira da vítima. Da análise dos dados, ressai que as vítimas que denunciam, apesar de possuírem um nível médio de instrução em sua maioria, não possuem emprego, ou estão em condições de empregos informais, sendo que a maior parte ainda se declara ‘do lar’, e isso ainda gera uma dependência de vítimas que chegam a não denunciar as agressões sofridas.
A delegada Jozirlethe ainda ressalta a preocupação com a reeducação do agressor não pode ser deixada em segundo plano, porque é justamente a reformulação de seus padrões culturais, a desmistificação dos estereótipos machistas é que vão definir a não reincidência desse autor.