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Brasil Terça-feira, 06 de Julho de 2021, 14:46 - A | A

Terça-feira, 06 de Julho de 2021, 14h:46 - A | A

ATRÁS DAS GRADES

Justiça nega liberdade a fazendeiro acusado de ajudar Lázaro Barbosa a fugir da policia

G1

O desembargador Ivo Favaro negou um pedido de liberdade para o fazendeiro Elmi Caetano Evangelista, de 73 anos, denunciado por ajudar Lázaro Barbosa a fugir da polícia em Cocalzinho de Goiás, onde teria dormido e se alimentado por cinco dias na propriedade dele, segundo a Polícia Civil. Lázaro morreu em confronto com policiais, após ser procurado por 20 dias seguidos.

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O pedido foi feito por meio de habeas corpus (HC). O advogado de defesa de Elmi Caetano disse que este instrumento foi ingressado por um anônimo que não faz parte de sua equipe. O G1 não localizou a pessoa que entrou com o HC.

De acordo com o processo judicial, o fazendeiro continua preso desde 24 de junho. A defesa disse que tem um pedido de liberdade a ser analisado, que foi feito em sigilo.

O desembargador negou o pedido porque a pessoa apresentou apenas o número de Registro Geral (RG) do fazendeiro e deixou de apensar os dados da investigação. "Constata-se que o impetrante juntou apenas seu documento pessoal, o que impede analisar o presente", escreveu o magistrado.

"Friso não ser ônus do julgador, mas do impetrante, anexar a documentação para instruir o feito", disse o desembargador na decisão.

De acordo com a sentença, publicada em 3 de julho, o autor do pedido alegou que dispensou demais informações porque "o que é público e notório dispensa comprovação".

Denúncia

A promotora de Justiça Gabriela Starling Jorge Vieira de Mello denunciou o fazendeiro por favorecimento pessoal, que é o crime de ajudar na fuga, e por posse ilegal de arma de fogo. A denúncia ainda não foi aceita pelo Judiciário para que ele se torne réu em ação penal.

Gabriela Starling também requisitou a instauração de investigação complementar do filho de Elmi Caetano, pois há indicativos de sua participação na fuga de Lázaro.

A denúncia foi oferecida à Justiça depois de a Polícia Civil indiciar Elmi Caetano por favorecimento na fuga e posse irregular de arma de fogo. O caseiro que foi preso junto com ele pela mesma suspeita foi inocentado e liberado da prisão.

O MP-GO disse que "ficou claro que ele [caseiro] não tinha domínio, influência ou mesmo consciência clara a atuação dolosa e espúria praticada pelo seu empregador".

 

O secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda, explicou que a morte de Lázaro não encerra todas as investigações sobre o caso.

"São 30 crimes que são de autoria confirmada dele. Temos oito em aberto, já com todos os indícios que foi ele que cometeu. Temos agora que ver se ele estava indo sozinho, se tem algum coautor nesses crimes ou algum mandante", disse.

Pistas falsas

Dias antes de ser preso, o fazendeiro abordou o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, durante buscas para dar pistas falsas sobre o paradeiro do fugitivo.

Em buscas por matas da região, no sábado (19), o secretário contou que foi abordado por ele na porta da fazenda. O homem relatou que Lázaro teria fugido para outra propriedade da região, enquanto o abrigava na sua casa.

"Quando eu voltava, um senhor nos parou na porta de uma fazenda, era o [fazendeiro preso], me falando que o Lázaro tinha passado na propriedade dele, amassado uma cerca e que estava na propriedade vizinha", contou Miranda ao Podcast do Fantástico.

 

Seis dias depois do primeiro encontro, o secretário voltou à região na quinta-feira (24) para prender duas pessoas suspeitas de ajudar a fuga. Chegando ao portão da fazenda, Miranda relata que se lembrou do local e do fazendeiro.

"No dia da prisão [24], quando estávamos indo para lá, eu entrei no portão e falei: ‘Opa. Eu sei quem é esse sujeito, é o cara que me procurou'. Ele estava fazendo uma contrainformação ali para sentir, e possivelmente, para 'vazar' com o sujeito", ressaltou.

O secretário de Segurança Pública explicou que a morte de Lázaro não encerra todas as investigações sobre o caso.

"São 30 crimes que são de autoria confirmada dele. Temos oito em aberto, já com todos os indícios que foi ele que cometeu. Temos agora que ver se ele estava indo sozinho, se tem algum coautor nesses crimes ou algum mandante", disse.

Relação de proximidade

O depoimento de um major da PM relata que o caseiro revelou uma relação de proximidade entre o fazendeiro e a família de Lázaro. O patrão teria prestado auxílio financeiro aos familiares quando o irmão de Lázaro morreu.

A mãe e o tio do fugitivo já trabalharam para o fazendeiro. No dia em que a polícia conseguiu entrar na casa, um militar viu o nome do tio de Lázaro escrito com tinta numa parede da residência.

Reféns eram obrigados a cozinhar

As investigações já haviam apontado que o criminoso também forçava as vítimas a tiraram as roupas e as obrigava a cozinhar para ele.

Foi o que aconteceu quando ele fez um casal e a filha adolescente refém. Segundo o irmão da garota, os parentes que foram ameaçados pelo criminoso contaram que precisaram se despir e eram ameaçados constantemente.

Os policiais descobriram ainda que Lázaro, ao invadir as chácaras, pegava alimentos e itens de higiene para se manter em fuga. Imagens feitas por uma moradora e outras por policiais mostram casas todas reviradas, que podem ter sido alvos de Lázaro.

Segundo a Polícia Civil, os crimes em que as investigações apontaram que Lázaro agiu sozinho serão arquivadas. No entanto, os inquéritos em que há indícios de participação de outras pessoas seguem sendo apurados.

Polícia atirou 125 vezes

O boletim de ocorrência revela que os policiais atiraram 125 vezes durante a troca de tiros. A Secretaria Municipal de Saúde de Águas Lindas, onde Lázaro teria sido atendido antes de morrer, informou que ele foi atingido por pelo menos 38 tiros.

O secretário de Segurança afirmou que o suspeito descarregou uma pistola contra os policiais. Com ele, foi encontrado um revólver calibre 38, uma pistola, munições, dinheiro e alimentos.

"Ele descarregou a pistola contra os policiais e não tivemos outra alternativa se não revidar", afirmou.

Confronto

O fugitivo foi atingido por cerca de 38 tiros durante confronto com a PM, segundo a prefeitura de Águas Lindas.

Apesar da troca de tiros, nenhum policial foi ferido. O secretário de Segurança Pública detalhou ainda que o suspeito foi socorrido com vida, mas morreu a caminho do hospital.

Rodney Miranda contou sobre o cerco que terminou com o confronto. De acordo com ele, os policiais viraram a madrugada procurando o fugitivo, "até que hoje cedo finalizamos a ocorrência e com todos polícias bem e o grande objetivo de não deixar ele machucar mais ninguém", afirmou.

 

Buscas por 20 dias

Enquanto fugiu por esses 20 dias dias, Lázaro é suspeito de invadir ao menos 11 fazendas, atirar em moradores, dois policiais militares e um oficial da Força Aérea Brasileira (FAB).

Além disso, Lázaro fez uma família refém - o casal e uma adolescente de 16 anos. Durante o sequestro, as vítimas contaram que o criminoso exigiu que eles andassem em córrego para não deixar rastros. Imagens registraram quando a polícia encontrou os três. Veja vídeo acima.

Cláudio Vidal, Cleonice Marques, Gustavo Vidal e Carlos Eduardo Vidal foram mortos por Lázaro Barbosa — Foto: Arquivo pessoal

Drones, helicópteros, rádios comunicadores e até um caminhão que tem plataforma de observação elevada de vídeo monitoramento ajudavam na procura. As autoridades policiais informaram que ele tinha facilidade de se esconder por ser mateiro, caçador e conhecer bem a região.

RELEMBRE ALGUNS MOMENTOS:

Cães farejadores também atuaram na caçada ao Lázaro, entre eles, cadela Cristal, que ajudou nas buscas em Brumadinho (MG). Um vídeo divulgado pela Polícia Militar mostra o momento em que um pastor alemão do Comando de Policiamento de Cães (CP Cães) é carregado nas costas por um militar após se ferir durante as buscas.

Durante as buscas, os policiais ainda encontraram um carro queimado e alguns objetos, como um lençol usado e um serrote. Todos os itens passam por perícia para verificar se eles têm relação com Lázaro Barbosa.

O secretário de Segurança Pública informou que Lázaro Barbosa seguia um ritual ao atacar as vítimas.

“Ele leva para beira do rio, manda tirar as roupas e uns ele acaba matando. Acredito que esse seria o destino dessa família hoje”, disse secretário.

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