"Nenhum país que começou a imunizar e liberou tudo teve sucesso", ressalta Danyenne Rejane de Assis, infectologista do Hospital Universitário Júlio Müller em Cuiabá, ao avaliar a vontade do presidente Jair Bolsonaro de desobrigar o uso da máscara facial entre pessoas já imunizadas com às duas doses das vacinas contra a covid-19 ou que já contraíram a doença e se curaram.
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Em coletiva de imprensa, Bolsonaro afirmou que pediu ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um 'parecer' para desobrigar o uso de máscaras. Procurado, o ministro disse ter recebido do presidente "apenas um pedido de estudo sobre as máscaras" e afirmou que essa medida depende ainda do avanço da campanha de vacinação no país.
Em meio à polêmica, a infectologista Danyenne conversou com o Estadão Mato Grosso e ressaltou que a medida avaliada pelo governo é temerária se for tomada precocemente, já que a intenção do presidente desconsidera o alto risco de reinfecção e o fato de que as vacinas não garantem 100% de proteção contra a doença.
“O Brasil ainda vive uma situação bem delicada em relação à pandemia. Temos ainda uma alta incidência de casos, um alto percentual de ocupação de leitos, em vários estados, várias regiões do país, inclusive aqui em Cuiabá há uma alta taxa de internação e a cobertura vacinal está aquém do desejado, nem 25% da população está completamente vacinada”, disse.
Ela ainda ressalta que os países que tiveram sucesso após o relaxamento do uso de máscaras tomaram uma série de cuidados simultâneos com a vacinação. Nos Estados Unidos, por exemplo, as máscaras são obrigatórias no transporte público e em ambientes com alta circulação e pessoas, podendo ser retiradas apenas em espaços ao ar livre.
“Nos países que tiveram sucesso, tanto as medidas de prevenção quanto a de vacinação, de distanciamento, foram tomadas simultaneamente. Primeiro atingiu um certo nível de imunização e depois decidiu as medidas de relaxamento. É uma ação combinada e faz parte das políticas públicas”, ressaltou.
A infectologista ainda explica que mesmo imunizado com duas doses, ou dose única no caso da vacina da Janssen, não há garantias de que a pessoa não irá contrair o vírus. “A imunização garante que, caso a pessoa contraia a doença novamente, os sintomas sejam mais leves”, disse.
CENÁRIO ESTADUAL - O número de infectados e de leitos disponíveis em Mato Grosso dá sinais contrários à intenção do presidente. Nesta sexta-feira (11), Mato Grosso registou 2.167 novos casos de covid-19, totalizando 426.509 pessoas infectadas.
O estado tem vivido um aumento no número de casos e de mortes há algumas semanas, permanecendo em patamares ainda bastante elevados. Nos últimos sete dias, por exemplo, houve uma média de uma morte a cada 90 minutos, totalizando 255 pessoas na semana entre 3 e 9 de junho.
Já a vacinação também tem andado lentamente, como no restante do país. O estado já aplicou mais de 1 milhão de doses de vacinas, mas apenas 296.242 pessoas já completaram o esquema vacinal, com as duas doses. Isso representa menos de 10% da população mato-grossense.
Países como Estados Unidos e Israel, que desobrigaram o uso de máscara de proteção, têm mais de 40% da população completamente imunizada. Além disso, esses países têm registrado número baixo de contágio e de mortes.
Diante disso, a recomendação de médicos especialistas e do próprio Ministério da Saúde é pelo uso de máscara facial, mesmo as de tecido. A medida busca evitar também a propagação do vírus por indivíduos assintomáticos. Também continuam valendo as orientações para que todos lavem as mãos frequentemente com água e sabão por pelo menos 20 segundos. Se não houver água e sabão, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.