A redução do consumo de alimentos básicos durante a pandemia foi exposta em estudo entre pesquisadores da Universidade Livre de Berlim em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade de Brasília. A população enfrenta a fome e os riscos da insegurança alimentar, diminuindo a ingestão de carnes, frutas, queijos, hortaliças e legumes, que deveriam compor o cardápio diário.
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Os pesquisadores ouviram 2.004 pessoas das cinco regiões do país, entre agosto e dezembro de 2020, considerando marcadores sociais como gênero, raça/cor, escolaridade, situação territorial e renda per capita. Dos mais de dois mil entrevistados, 59,4% estão em situação de insegurança alimentar, o que representaria 6 em cada 10 brasileiros. Apenas 40,6% tem segurança alimentar. Ou seja, mais da metade não tem acesso a alimentos básicos para suprir suas necessidades diárias.
Na região Centro-Oeste, onde Mato Grosso está, 54,6% das famílias sofrem insegurança alimentar. A região Nordeste é a que mais apresentou famílias vivendo nesta situação, com cerca 73,1% dos entrevistados sem conseguir suprir suas necessidades básicas diárias. Em seguida vem o Norte, com 67,7%, o Sudeste com 63,5% e, por último, o Sul com 51,6%.
Diminuição dos alimentos
Houve redução de mais de 85% do consumo de alimentos saudáveis entre os entrevistados em situação de insegurança alimentar. Os alimentos saudáveis mencionados pela pesquisa incluem carnes, com consumo reduzido em 44% na pandemia; frutas, com diminuição de 40,8%; queijos, em 40,4%; e hortaliças e legumes, com redução de 36,8%.
A redução foi menor entre as famílias em situação de segurança alimentar, variando entre 7% a 15%. Antes da pandemia, os domicílios em insegurança alimentar já consumiam de forma irregular os alimentos citados: carne (72,6%), hortaliças e legumes (67,2%), frutas (66,5) e queijos (62,5%).
"Essa diminuição pode ter relação com o aumento do preço da carne. Algumas ficaram desempregadas e isso também acarreta no deixar de consumir. A falta da proteína na dieta pode ocasionar desnutrição, queda no peso, problemas de enfraquecimento na pele e unhas, pela falta das vitaminas e minerais que a carne proporciona", comentou Kimberly Flores, nutricionista.
Em contrapartida, doces e guloseimas, considerados alimentos de baixo valor nutricional e com alto teor de açúcar e gordura, tiveram um aumento de 9% no consumo durante a pandemia.
“Esse aumento no consumo de açúcares pode causar diabetes, gordura no fígado por conta do excesso de gordura e, consequentemente, a obesidade. Além de outros problemas de saúde que podem surgir futuramente. Com a diminuição de proteína, é comum o aumento de carboidratos e açúcar”, justificou.
Ovo em destaque
O alimento que teve mais destaque durante o estudo foi o ovo, o mais consumido (18,8%). Este aumento pode estar relacionado, segundo a pesquisa, à substituição do consumo de carne. "Caso a família não tenha condições de comprar a carne, a substituição pelo ovo é uma ótima opção. Ele é rico em proteína, vitaminas e minerais. Até aqueles que não querem consumir carne, o ovo tem muitos benefícios para a saúde. É um excelente alimento e traz saciedade, podendo ser consumido em qualquer horário, no café, no almoço e na janta", pontuou a nutricionista.