Com o constante aumento de casos de covid-19, uma das principais fornecedoras de oxigênio para Mato Grosso, a White Martins, emitiu novo alerta e pediu ajuda emergencial, com apoio logístico aéreo da Força Aérea Brasileira (FAB), para que não faltem insumos nas unidades de saúde. O alerta foi enviado ao Governo na última segunda-feira (29).
Na carta, a empresa informou que os volumes consumidos pelas unidades de saúde quintuplicaram em comparação às médias de consumo ordinárias. A empresa aponta que só no mês de março, até a última sexta-feira (26), as médias de consumo giravam em torno de 7.865m³/dia, tendo ocorrido, inclusive, um pico de consumo identificado na primeira quinzena de 13.000m³ em um só dia.
Graciene de Oliveira, 30 anos, sentiu na pele a angústia para conseguir um cilindro de oxigênio para seu esposo, internado para tratamento da covid-19 em um hospital em Campo Verde (130 km da capital). A empresária conta que chegou a fazer uma peregrinação nos hospitais públicos de Cuiabá para conseguir atendimento, mas só conseguiu em uma unidade particular.
“Eles estavam recebendo os pacientes e mandando para casa com receituário para tratamento. Na receita, eles indicavam remédios e, se possível, uso do cilindro de oxigênio para ajudar na respiração, principalmente à noite, pois não era possível uma internação”, contou, em entrevista ao Estadão Mato Grosso.
O preço do aluguel de um cilindro de oxigênio para pacientes que precisam se tratar em casa chega a R$ 1 mil para 30 dias. O cilindro dura, em média, quatro a sete dias, considerando o uso não-constante. O valor de uma recarga varia entre R$ 100 e 280, de acordo com o tamanho.
Mesmo pagando, é preciso enfrentar uma fila de espera para conseguir um cilindro de oxigênio e, ainda assim, correr o risco de não conseguir, seja pelo custo ou pela falta do insumo. O pagamento desse item tão essencial era feito no fim da locação. Com o aumento da demanda, passou-se a cobrar já na retirada dos cilindros.
Na carta, a própria White Martins pede para que as unidades hospitalares usem o produto de forma racional e reavaliem a criação de novos leitos.
"Aproveitamos a oportunidade para reiterar a necessidade de otimização do uso de oxigênio, estimulando o uso racional do produto pelas unidades de saúde, bem como a adequação da infraestrutura e eventual ampliação da rede de distribuição de oxigênio de acordo com novos pontos de consumo que a unidade hospitalar pretende criar".
Eduardo Andraus, médico nefrologista e clínico geral, explica que o uso de oxigênio para tratamento de um paciente em casa varia conforme a gravidade da infecção. “Um exemplo: o paciente que foi infectado e estava internado, quando recebe alta hospitalar, ele não consegue ficar em casa sem o oxigênio por menos de 10 dias”, destacou.
Segundo o médico, para um paciente em tratamento da doença em casa, o recomendado é que utilize o oxigênio o dia todo e faça os exercícios de fisioterapia na medida do possível. “Só que o paciente normalmente não fica as 24h do dia no oxigênio, pois o mesmo pausa o uso para fazer suas necessidades básicas”, pondera.
Por fim, a White Martins se dispôs a fornecer 18 tanques pequenos de oxigênio para ampliar a capacidade de armazenamento dos hospitais de Mato Grosso, mas também depende da ajuda da FAB para realizar o transporte destes tanques, que estão em Minas Gerais.
OUTRO LADO
Procurada pelo Estadão Mato Grosso, a Secretária de Estado de Saúde (SES-MT) informou que já solicitou ao Ministério da Saúde ajuda para a prestação de serviço de logística aérea para atender a demanda de oxigênio no estado.