A ‘pechincha’ diária virou rotina na vida de dona Maria Izabel Escouto, proprietária de uma marmitaria na região do bairro Alvorada, em Cuiabá. As quentinhas de dona Izabel são disputadas por quem aprecia comida caseira com preço acessível. Apesar de não ter problemas com a clientela, a situação financeira do estabelecimento está sendo sufocada pela alta acelerada dos alimentos desde o início da pandemia, em março de 2020.
“Estou pensando em desistir do negócio, por não ter capital de giro para me reinventar”, lamenta Maria Izabel.
Diariamente dona Izabel fornece uma média de 100 refeições, tendo duas opções: a pequena, ao custo de R$ 12, e a grande, de R$ 14. Para facilitar a vida dos clientes, muitos deles trabalhadores da construção civil, ela trabalha com pagamentos mensais, um método que está inviabilizando os repasses dos aumentos constantes na conta do supermercado.
“Eu preciso costear essas marmitas por mês e não posso aumentar o preço a cada quinze dias. Além disso, temos que avaliar a questão dos salários, já que a maioria dos trabalhadores não teve aumento”, explica a microempresária.
Para afastar o risco de fechamento, Maria Izabel calcula um aumento mínimo de R$ 2 em cada prato. O valor fica abaixo do necessário para a recuperação do negócio, mas é o que dá para fazer sem perder os clientes.
“A conta não fecha. Quando faço mercado encontro arroz a 25 reais o pacote (5 kg), o feijão a 7,80 (1 kg) e um litro de óleo de soja a 7 reais. Onde já se viu isso? Com tudo subindo, na verdade, a marmita teria que custar pelo menos 20 reais”, desabafa.
Na tentativa de segurar o preço das refeições, Izabel procura ser criativa nos preparos dos alimentos, diversificando, principalmente, as proteínas. “Se ontem eu fiz frango frito, hoje eu faço filé de frango ou estrogonofe. Tanto o frango como a carne de porco entram no cardápio duas vezes na semana e só um dia tem carne bovina”, explica.
Em Mato Grosso, o preço dos cortes de carne bovina subiu, em média, 22,6% nos últimos doze meses. Os maiores aumentos foram registrados nos cortes mais populares, como coxão duro (38,64%), lagarto (32,59%), acém (31,89%) e patinho (31,38%), de acordo com dados do Instituto Mato-grossense de Pesquisa Agropecuária (Imea).