Os gastos com energia elétrica e combustíveis destacam-se como os principais causadores da alta inflação em maio. Os dois juntos contribuíram com quase 50% do aumento no período. O acionamento de usinas termoelétrica, energia mais cara e aumento da gasolina, etanol e diesel, impactaram na renda das famílias, em especial as mais carentes.
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Esse cenário é apontado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo os dados, a inflação ficou em 0,83% em maio, sendo 0,52 ponto percentual (p.p.) acima da taxa de abril (0,31%). Já no acumulado no ano foi de 3,22%.
A gasolina e a energia elétrica contribuíram com 0,40% da inflação registrada em maio. Para compreender melhor o que está por trás disso, as economistas Thais Sampaio e Edijeide Freitas, explicam quais são os “agregados econômicos” que levaram a esse resultado: inflação de 0,83%, maior resultado em maio desde 1996 (1,22%).
“Antes da energia e da gasolina temos a situação do câmbio. Sua desvalorização influenciou os custos com energia e combustíveis. Isso porque uma parte dos preços desses dois produtos, advém da variação cambial. Então, se temos uma situação de desvalorização do real frente ao dólar, isso impacta toda a cadeia”, esclarece a economista Edijeide Freitas.
De forma simplificada, no caso da energia elétrica, a influência do dólar ocorre porque parte da energia consumida no Brasil vem da Usina de Itaipu, entidade binacional (Brasil e Paraguai). A usina possui 14 gigawatts (GW) de potência instalada, sendo que cerca de 10,8% são consumidas no país. O problema é que essa energia tem um custo adicional no bolso do consumidor: o preço por megawatt-hora (MWh) é cotado em dólar.
Em 2020, a diferença de preços por MWh foi de quase R$ 150. Cotada em dólar, a energia de Itaipu custava R$ 350/MWh enquanto o de outras usinas custava, em média, R$ 200/MWh.
A dinâmica do combustível e seus derivados também tem seus preços ajustados conforme o valor do dólar. Além de outros fatores do mercado, uma das bases de cálculo é o preço do barril de petróleo, que nesta quinta-feira (10) era cotado em R$ 366,10.
Com a precificação da energia e gasolina em dólar, o preço adicional é pago pelo consumidor final.
“A inflação leva para um caminho de aumento generalizado de preços. No caso do Brasil, muitos produtos estão sujeitos à variação cambial, como as carnes e o combustível. São produtos de alto consumo, como alimentos, combustível e energia. Então se continuar subindo, o reflexo é de aumento de preços”, ilustra a economista Thais Sampaio.
2021: Ano da bandeira vermelha da energia e gasolina 25% mais cara
A inflação (IPCA) é calculada com passe em nove grupos de produtos e serviços. Em maio, todos os conjuntos registraram alta. No caso da energia elétrica, que compõe um dos itens do custo com habitação, seu impacto foi de 5,37%. Já a gasolina, um dos componentes do grupo transporte, teve influência de 2,87% no período.
Conforme o IBGE, a inflação do grupo Transportes alcançou o índice de 1,15%, reflexo direto da gasolina. No ano, o combustível soma alta de 24,7% e, em 12 meses, de 45,8%. Os preços do gás veicular (23,75%), do etanol (12,92%) e do óleo diesel (4,61%) também subiram em maio.
A alta do grupo Habitação (1,78%) deve-se, principalmente, ao resultado da energia elétrica (5,37%). Um dos motivos é que, em maio, passou a vigorar a bandeira tarifária vermelha patamar 1, que acrescenta R$ 4,169 na conta de luz a cada 100 quilowatts-hora consumidos.
“Vale lembrar que, entre janeiro e abril, estava em vigor a bandeira amarela, cujo acréscimo é menor (R$ 1,343). Além disso, no final de abril, ocorreram reajustes em diversas regiões de abrangência do índice”, explica Pedro Kislanov, gerente responsável pelo IPCA de maio.
Do maior para o menor, os maiores impactos dentre os nove grupos de produtos e serviços pesquisados em maio ficaram: Habitação (1,78%), Transportes (1,15%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,76%), Alimentação e bebidas (0,44%), Artigos de residência (1,25%), Educação (0,06%) e Vestuário (0,92%).
Projeções para o futuro
O peso atual dessa inflação sentida em maio, pode até perdurar nos próximos meses, mas chegará um momento em que os preços começarão a retroceder. Essa é a avaliação feita pela economista Thais Sampaio, que aponta alguns fatores necessários para que ocorra essa mudança de trajetória.
“Vamos atingir uma fase de estabilização, mas isso não depende só do cenário nacional, mas também do câmbio. Não dá para atestar quando isso vai acontecer, mas supomos que as altas nos preços dos alimentos atinjam um preço fora da régua, que ninguém vai conseguir consumir, terão que recuar”, descreve.
Outra questão observada pela especialista é que não há razões para temer um cenário de inflação semelhante aos anos de 2014 e 2016, quando a taxa Selic superou os 12% ao ano.
“Não vai chegar a esse patamar, a não ser que tenha outra pandemia em magnitude pior que está. Não é esse exagero que muitos estão com medo de chegar a fazer ‘gatilho salarial’, como foi na década de 80. Até porque as vacinações estão ocorrendo, de forma lenta, mas está andando. Existe expectativa de melhora e retomada da economia e, mesmo que de forma lenta, muitas coisas estão andando para que o cenário seja favorável para o Brasil”, prevê Thais.
O chamado “gatilho salarial” foi uma prática adotada pelo governo Sarney, na década de 80. A regra era congelar os salários até que a inflação atingisse 20%, para que o salário fosse corrigido.