Cada centavo recebido pelo trabalhador brasileiro passou a ter um peso maior em seu orçamento no período de pandemia. Economizar virou regra para sobreviver à crise da covid-19. Só que, apesar das dificuldades, o brasileiro tem dado sinais positivos para a reeducação financeira da população.
Nesta semana, o Banco Central (BC) revelou que os depósitos em cadernetas de poupança em 2020 superaram em R$ 166,31 bilhões o volume de retiradas, um recorde histórico da série iniciada em 1995. Com esse resultado, a captação líquida – diferença entre depósitos e retiradas – superou o recorde de 2013, quando a aplicação financeira captou R$ 71,05 bilhões.
A busca pela educação financeira não terminou em 2020. Em janeiro deste ano, os investimentos em renda fixa também chamaram a atenção dos economistas, com uma captação líquida de R$ 29,2 bilhões, sendo R$ 21,7 bilhões a mais que dezembro de 2020. Confirme a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o resultado alcançado foi o maior da indústria no período.
Para Thais Sampaio, economista especialista em investimentos, a crise da covid-19 abriu o olho da população para a importância da educação financeira.
“Podemos dizer que foi dado o pontapé inicial para uma educação financeira no país, o que deveria ser uma disciplina básica nas escolas. Crianças e adolescentes precisam saber administrar seu próprio dinheiro, para quando receberem o primeiro salário [no futuro] não ficarem sem saber o que fazer com ele. Nesta pandemia, aos poucos as pessoas estão aprendendo, porque ou aprende ou aprende e para ter esse controle financeira tem que estudar, senão não vai para frente”, observa Thais.
Ainda conforme a economista, caso esse interesse financeiro permaneça a longo prazo, população e instituições financeiras podem se beneficiar com a redução da inadimplência no país, fator que pesa na concessão de crédito pelos bancos. “Se continuarmos nesse ritmo de aprendizado, podemos reduzir a inadimplência no país”, destaca.
Porém, para este ano, a inadimplência deve voltar a crescer, “pois os créditos adquiridos e dívidas renegociadas em 2020 vencem agora, mas a maioria [dos credores] não conseguiu se reestruturar para pagar. Além disso, por mais que se fale em retorno, o auxílio emergencial acabou. Esses são fatores que devem aumentar a inadimplência nos bancos”, alerta Thais.