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Economia Quinta-feira, 24 de Setembro de 2020, 10:46 - A | A

Quinta-feira, 24 de Setembro de 2020, 10h:46 - A | A

INVESTIMENTOS

Mato Grosso pode se tornar um ‘celeiro’ de carbono neutro

Priscilla Silva

Investidores estão cada vez mais de olho no carbono brasileiro. Resultado preliminar de uma pesquisa realizada com mais de 100 empresas indica que boa parte deles prefere investir na compra de carbono (CO2) a commodities. Mato Grosso está entre os estados com maior potencial para receber esses recursos, mas para ter acesso terá que desenvolver políticas de incentivo à preservação.

Um dos desafios da economia verde tem sido a falta de mecanismos de compensação para quem preserva. Mercados como o da soja, carne e algodão são mais atraentes do que manter as árvores em pé, ou seja, o mercado de carbono. Porém, essa realidade deverá mudar.

O aumento de fenômenos climáticos, ocasionados pelo aumento de poluentes na atmosfera, tem mudado a concepção econômica de empresas. O número de investidores interessados em compensar sua pegada ecológica, ou seja, a poluição causada por suas empresas comprando créditos de carbono.

“Estamos com uma pesquisa em andamento, com centenas de empresas, para saber se elas querem comprar CO2 ou carne e soja. A resposta a essa pergunta deverá sair daqui a duas semanas, mas os sinais mostram que há muito mais empresas querendo comprar carbono neutro”, antecipa o cientista Daniel Nepstad, doutor em Ecologia Florestal e um dos participantes do estudo.

A declaração foi feita durante um evento sobre economia verde realizado pela Federação das indústrias de Mato Grosso (Fiemt), na terça-feira (22).

O aumento desse interesse ocorre justamente no momento em que Mato Grosso enfrenta um dos seus piores incêndios florestais no Pantanal. Além disso, figura como o estado que mais concentrou focos de calor entre os meses de janeiro e agosto deste ano, dentre os noves estados que compõem a Amazônia Legal. Foram 19.606 mil ao todo, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“A devastação das queimadas compromete o estado inteiro. É preciso discutir a economia verde e passar a informação de que é preciso conciliar as boas práticas produtivas com a preservação ambiental. Saber como o estado de Mato Grosso se insere no contexto da economia verde e aproveitar vocações do estado para essa oportunidade”, pondera Gustavo de Oliveira, presidente da Fiemt.

Apesar das queimadas, Mato Grosso pode ser um grande mercado de carbono para o mundo. O momento para estreitar laços com investidores é agora, aponta o cientista Daniel Nepstad.

“É preciso medir pegada de carbono do estado, já tem uma estimativa, e reduzi-la ao máximo, o que vai sobrar um pouco. Porém, pega-se as reduções de emissões que Mato Grosso já alcançou com a diminuição do desmatamento, para compensar o que sobrar. Com isso, deve-se aproveitar essa onda de negociações com comunidade europeia – sobre exportação de carne, soja e outros produtos para lá – e criar um mecanismo financeiro que compense o produtor que participa desse sistema”, explica Daniel.

Fazer chegar a recompensa aos produtores que aderem à economia verde é um dos desafios para a popularização do modelo no Brasil. Segundo Daniel Nepstad, entre 2005 e 2017, o Brasil evitou a emissão de 8 bilhões de toneladas de CO2 nos biomas da Amazônia e do Cerrado, mas apenas 4% dessas reduções de emissões foram compensadas até hoje e quase nada chegou ao produtor.

“Economia verde deve favorecer quem cumpre a lei e facilitar o acesso deles aos novos mercados. Vejo também que há aumento da demanda por alimentos de baixo carbono, como já há iniciativas em Mato Grosso para piscicultura, que tem gerado um acréscimo de renda para aquela propriedade”, defende Daniel.

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