O tradicional “Peixe Santo” está garantido para as famílias que celebram a Sexta-feira Santa (2), feriado católico. Depois de ter sido suspenso em 2020, em razão da pandemia, neste ano o evento terá peixes com valores acessíveis vendidos no sistema de drive-thru, a partir de hoje (31). A volta do evento animou os piscicultores, que desde o início da pandemia amargam prejuízos.
Foram quase dois anos de preparo e muitas dificuldades. Os investimentos feitos pelos produtores foram praticamente perdidos com o fechamento de bares e restaurantes, além do cancelamento do Peixe Santo. Com a perda de seus principais mercados, muitos piscicultores abandonaram as atividades. Durante a semana do ano passado, os produtores atingiram apenas 30% das vendas previstas.
“No ano passado, a expectativa de venda para o período caiu 70% em relação ao mesmo período de 2019 e neste ano nem isso é esperado”, pontua Patricia Marques, vice-presidente da Associação dos Aquicultores do Estado de Mato Grosso (Aquamat).
Além do recuo das vendas deste ano, os piscicultores do estado passam por um momento delicado de adaptação industrial e aumento de custos da produção.
“Em 2020 tivemos muitos desafios, aumento no custo da ração, que teve uma variação de 80%; uma seca excessiva, que atrapalhou o desenvolvimento dos peixes, com atrasos na produção de alevinos. Esse conjunto de fatores atrapalhou a recuperação do setor que ficou na esperança da Semana Santa 2021 para recuperação das vendas. Infelizmente a pandemia voltou a nos atrapalhar”, informa Patricia.
A crise vivenciada pelo setor tem provocado um ‘retrocesso’ nas conquistas da atividade no cenário nacional. O estado, que já foi primeiro no ranking de produção nacional, caiu da 4ª posição para a 6ª entre 2020 e 2021.
“Neste ano vai ter Peixe Santo, o que vai ajudar um pouco no volume das vendas. É uma época em que, ao invés de fornecer 100 quilos (KG), é possível vender 1 tonelada. Apesar da confirmação do evento, ainda estamos receosos, com medo de acontecer exatamente como no ano passado, em que a prefeitura de Cuiabá [organizadora] mobilizou o setor e depois cancelou. Neste ano, a pandemia está mais grave e decisões judiciais podem afetar a realização, o que nos deixa muito aflitos”, explica Patricia.
CLIMA SECO
Junto à crise sanitária, aumento de custos de produção e redução da demanda, o clima também não tem sido favorável à piscicultura. “A seca foi muito severa no ano passado e continua neste ano. As chuvas desta época não conseguiram encher as represas na Baixada Cuiabana e também no interior do estado, onde pensávamos que estivesse melhor”, conta a vice-presidente da Aquamat.
A produção de peixes no estado utiliza águas das chuvas para produção e engorda. A redução delas atrapalhou a recriação, deixando a proteína escassa no mercado no início deste ano. Entretanto, apesar da pressão do mercado, o preço do quilo do peixe para o produtor não aumentou.
“O preço pode estar alto na ponta, mas para os produtores segue o mesmo. Hoje, para empatar com os custos, o quilo é vendido a R$ 9 reais, abaixo disso é prejuízo. O ideal era vender a R$ 9,50, mas está muito difícil chegar a esse valor”, pondera Patricia.
No varejo, o peixe chega a ser vendido a R$ 20 por quilo, sem passar por processo industrial. O preço se equipara aos que são vendidos de acordo com as normas sanitárias, com registros e certificações. Em Cuiabá e Várzea Grande há frigoríficos credenciados em que o consumidor pode comprar com mais segurança.
Peixe Santo será em drive-thru
O evento Peixe Santo 2021 está garantido. O evento será realizado do dia 31 de março a 2 de abril, em sistema de drive-thru. Ou seja, cada carro poderá adquirir até cinco peixes ao valor de R$ 15,90 por quilo em quatro pontos da cidade: Parque Tia Nair, Parque das Águas, Centro Cultural Silva Freire e Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
O projeto ocorre há quase 30 anos e já virou tradição. Todos os anos reúne milhares de participantes, com resultado significativo no comércio de peixes. Em 2018, o evento chegou a atingir cerca de 140 toneladas.
No ano de 2020, o Peixe Santo foi cancelado, em razão das normas de enfrentamento ao novo coronavírus. Este ano, para manter a tradição e para evitar aglomerações, a Prefeitura retorna com o projeto, cumprindo as exigências relacionadas à biossegurança, de acordo com recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). A logística nos locais de venda será acompanhada pela Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar.
“O Peixe Santo é um evento muito simbólico em Cuiabá. O cuiabano é um povo de muita fé e tradição e neste momento tão difícil precisamos sim cumprir todas as medidas de biossegurança, por isso planejamos a venda pelo sistema drive-thru, mas também não podemos perder a esperança de dias melhores e de celebrar a vida, a saúde de quem a gente ama”, declarou Emanuel Pinheiro (MDB), prefeito de Cuiabá.
Veja os horários e locais de vendas
Locais: Parque Tia Nair, Parque das Águas, Centro Cultural Silva Freire e Associação dos Criadores de Mato Grosso (ACRIMAT).
Horários: Dia 31 de março (quarta-feira), das 8h às 18h;
Dia 1 de abril (quinta-feira), das 8h às 19h; e
Dia 0 de abril (sexta-feira Santa), das 8h às 12h
*Atualizada às 9h55.