"Mas no momento que a gente subir naquele palco, é muito importante que a gente pense que daqui a 50 anos essa vai ser a noite que transformou a vida de muita gente [...] vamos devolver a eles o direito de sonhar". É com essa frase que Emicida finaliza o discurso antes de entrar no show AmarElo, gravado e documentado pela Netflix.
O documentário conta a produção do álbum, mesclando com o show no Theatro Municipal em São Paulo, com passagens históricas que resgatam a origem do rap, samba da luta antirracista no Brasil e da importância do povo negro para a construção do país.
O documentário gerou diversas opiniões nas redes sociais, principalmente pela mensagem de esperança e de poder negro. Muitos fãs reagiram com emoção ao documentário, principalmente por contar um lado da história do Brasil.
@emicida , muito obrigado por esse álbum e por tudo o que ele representa. a potência do #EmicidaAmarEloDoc é imensurável. poder entrar no teatro municipal, juntamente com meus irmãos negros, para assistir um artista negro, foi algo que jamais esquecerei! tudo que nóiz tem é nóiz
— Dout Dout (@_edusampaio_) December 8, 2020
Conversamos com espectadores negros que assistiram ao documentário para tentar captar um pouco do sentimento que a obra trouxe em uma hora e meia de documentário.
Atenção: as opiniões podem ter spoilers.
Essência
"O documentário é extremamente símbolico para a minha negritude, minha essência, minhas raízes. Me tocou de uma maneira que sinto que sei porque fui tocada. É a história dos meus antepassados sendo contada, descrita, da maneira mais pura e verdadeira que tem. Foi lindo ver a evolução do tempo sabe? De uma maneira simples e educativa. É lindo ver de onde vemos, saber da nossa história, da nossa raiz, até minha fé foi tocada durante o documentário".
- Nara Vasconcelos, jornalista
Pasmo de felicidade
"O enredo e a contextualização de pretos protagonistas fazendo parte de um documentário em que um preto (Emicida) protagoniza é demais. Eu, como um jovem preto, eu sabia das referências mas algumas nunca tinha ouvido falar. O filme mostra que um jovem preto consegue chegar onde quiser, sim. A obra fez uma diferença para o meu pensamento porque agora eu sei que tudo no país tem uma mão preta".
- Wesley Maxwell, estudante
Dores
"Foi sensacional, fiquei apaixonada pela forma que o Emicida abordou. A única crítica que tenho e que me dói é que por estar em um serviço de streaming, muitas pessoas que necessitam ver isso podem não assistir por não poder pagar pelo serviço. Negros e negras sem alcance precisam assistir para entender a potência que temos".
[sobre a cena em que aparece Marielle Franco]
"Foi um impacto muito forte, porque eu moro perto de onde ela foi assassinada. É um impacto positivo, as falas dela no documentário são essenciais, mas ao mesmo tempo dói porque o filme foi lançado no dia que marca os mil dias sem respostas", afirma.
- Bruna Santos, estudante universitária
"Identificação e proximidade"
"Muitas vezes pensamos que o racismo é isolado, mas ao vermos toda a nossa história, vemos que temos mudar o pensamento. Acho que metade das pessoas que apareceram no documentário não apareceriam se parassem por conta da sociedade. [...] O Emicida empurra a gente, ele fica cutucando a gente para ir atrás dos nossos sonhos. É incrível ver que ele instiga a gente a batalhar pelos nossos sonhos, mesmo que tenha uma estrutura que fale que não é nosso lugar. Se falam que não é para nós, o Emicida fala que é aqui mesmo que iremos ficar".
- Beatriz Mirelle, graduanda em Ciências Sociais
Reconfortante
"É como se fosse um abraço. Conforta para caramba além de ensinar muito. Além das referências incríveis que eu cresci e o Emicida cresceu ouvindo, tudo é lindo, o show, a parte dos bastidores, os vídeos antigos de músicos que foram escolhidos. E como o próprio falou: o Teatro Municipal ficou pequeno. Eu fiquei todo arrepiado e em alguns momentos chorei, é reconfortante nesse ano tao sombrio que passamos".
- Luan Silva, estudante
Conquista
"Para mim ele abriu portas, senti que queria ver outra obra desse tipo, contada por outro negro. Ele nos fez ver belos, com riqueza e história, é como entregar nossas mãos a nossa vida, também temos o que contar, estudar, aprender e mostrar. Chorei muito, mas foi um choro de conforto. Foi o dia que olhei pra TV, abri o Instagram e outras redes sociais e vi um preto vencendo. Ele não estava morto pra aparecer, estava metendo pé na porta e se mostrando, nos mostrando".
- Para Karen Nunes, graduanda em Pedagogia