Seguidamente estamos convivendo com inúmeras críticas e exigências ao nosso sistema produtivo. Algumas procedem e são bem vindas, porém outras contrariam os princípios da ciência.
Afirmar que o agro está destruindo o planeta ou que a pecuária bovina está poluindo o ar e que está consumindo nossas reservas de água, fazem parte dos inúmeros absurdos que são ditos por ambientalistas radicais e por celebridades.
A democracia tolera bem a divergência de ideias, mas exige que fatos baseados na ciência sejam considerados nas decisões.
De qualquer forma, temos que nos preparar para sermos o maior fornecedor mundial de alimentos. Já fomos capazes de ganhar o mercado mundial de commodities agrícolas e de carnes. Temos que agora olhar também para as outras culturas.
Os países importadores querem alimentos que incluam qualidade e sanidade, passem por um crivo de certificações e que tenham sido produzidos com práticas agrícolas ambientalmente sustentáveis.
Se os críticos do nosso sistema produtivo estão pensando que o agro vai regredir nestas questões, podem começar a chorar.
Mas nem sempre as críticas se originam de demandas normais de ambientalistas e consumidores. Ocorrem também por protecionismo de países concorrentes, que normalmente subsidiam suas produções. Temos que enfrenta-los com produtos de qualidade e mais baratos.
As questões pontuais de desmatamentos e queimadas ilegais que prejudicam nossa imagem já estão sofrendo pressões dos próprios agropecuaristas e das entidades que os representam.
Não tem o mínimo perigo de sermos pegos de “calças curtas” e nos transformar nos vilões da sustentabilidade no nosso processo de produção.
Cuidamos de seguir a legalidade e aquilo que as normas morais nos ensinam.
Temos um agricultor ousado, criativo, competente e orgulhoso daquilo que faz; associações de classe para quase todas culturas e criações; um sistema de cooperativas nacionalmente distribuído e diversificado; dezenas de indústrias com seus milhares de integrados e uma pesquisa agropecuária (EMBRAPA e muitas outras), que resolvem adequadamente as questões técnicas.
Integrado de indústria é um agricultor ou criador de aves, suínos ou produtor de leite, que recebe das empresas parceiras assistência técnica e os insumos necessários a sua atividade. A contrapartida é entregar sua produção à indústria. É uma parceria que terá que ser vantajosa para ambos.
O sistema cooperativo é muito semelhante com a diferença que o agricultor associado faz parte da empresa e participa dos lucros e prejuízos. A maioria dos pequenos e médios produtores do país, principalmente das regiões sul e sudeste, estão nessa condição de cooperativados ou de integrados de indústria.
Todo este conhecimento e organização, tanto das entidades representativas e associativas do agro, da pesquisa agropecuária e do próprio agropecuarista, nos dão uma certeza da evolução constante do agro, no sentido da preservação e qualidade dos alimentos produzidos.
Nesse processo todo, não é possível prescindir do lucro. Sem ele tudo desmorona, felizmente é possível achar soluções tecnológicas que incluam na mesma balada, lucro e sustentabilidade.
A preservação não é um entrave econômico para o desenvolvimento do agro. Será um grande ativo comercial, cujo objetivo final será transformar estes ativos ambientais que estamos construindo, em ativos econômicos. Esta imensa “inteligência” rural envolvida, faz com que estas mudanças ocorram e evoluam naturalmente sem a necessidade das constantes críticas e puxões de orelha exagerados.
Não chegamos a esse ponto de eficiência e competência só porque somos bonzinhos. As pressões de ambientalistas sérios e consumidores também foram decisivas. É assim que as coisas evoluem.
* Arno Schneider é engenheiro agrônomo e pecuarista.