Cuiabá chega aos 302 anos nesta quinta-feira (8), mas não há razões para comemorar seu aniversário. A capital perdeu 2.232 habitantes para o novo coronavírus durante o último ano, entre eles algumas figuras que marcaram história, não apenas na capital, mas de todo Mato Grosso. Mais de um quarto de todas as mortes registradas no estado até agora foi de cuiabanos. Atualmente, pelo menos 2.865 pessoas estão lutando para sobreviver ao vírus, seja em casa ou em um leito de hospital.
Apesar de tantas perdas, Cuiabá está no centro de uma disputa política sobre o relaxamento das medidas restritivas que são necessárias para conter o avanço do novo coronavírus. Uma intensa batalha jurídica foi travada após o último decreto estadual, que orientava a capital a entrar em quarentena, a Justiça acabou permitindo a liberação total do comércio, com alguns ajustes no funcionamento.
É evidente que os municípios do interior iriam buscar o mesmo tratamento, já que não querem ter que tomar sozinhos os prejuízos das medidas restritivas, enquanto a capital foi ‘poupada’. Querem, justamente, ser tratados de forma igual. Maior cidade do estado, Cuiabá dá o exemplo e acaba sendo seguida pelos demais municípios.
Enquanto persiste a politização da pandemia, o vírus segue ceifando vidas. Os dois primeiros dias desta semana registram mais de 100 mortes diárias, com o estabelecimento de um novo recorde na segunda-feira (5), quando 128 mato-grossenses migraram para a morada divina. Infelizmente, seguimos caminhando para ter um mês de abril ainda mais trágico do que março, que foi o mês mais letal da pandemia até o momento. Até esta terça-feira (6), já tínhamos perdido 461 conterrâneos, número alto para um mês que começou com feriadão de Páscoa.
A situação em Mato Grosso não é tão diferente do panorama nacional. Nesta terça, o Brasil bateu novo recorde de mortes diárias, com 4.195 vidas perdidas em um único dia. Parecemos estar cada vez menos empáticos e solidários à dor do próximo. Nem mesmo a morte de pessoas próximas tem sido suficiente para convencer as pessoas a ficar em casa.
Diante de tantos problemas, a falta de uma festa de aniversário para os 302 anos de Cuiabá é parte de uma solução. A maior cidade de Mato Grosso será obrigada a parar por um dia. Com tudo fechado, menos pessoas circulando, menor a chance de o vírus fazer mais vítimas. Esse sim é o presente que desejamos, a preservação da vida, acompanhada, claro, da vacina.