A decisão da Assembleia Legislativa em garantir a imunização dos profissionais de Educação antes de liberar o retorno das aulas na rede pública estadual é louvável, mas tende a aumentar o enorme abismo social que existe em Mato Grosso. Afinal, só os estudantes da rede pública vão permanecer no ensino à distância, enquanto as escolas particulares estão funcionando a pleno vapor desde que foi sancionada a lei que transforma educação em serviço essencial, proibindo o fechamento de escolas durante o período da pandemia.
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Professores mato-grossenses já estão sendo vacinados contra a covid-19 desde o final de maio, mas a imunização só estará completa em meados de outubro, quase próximo ao final do ano letivo. Até lá, os alunos que cursam o ensino médio na rede pública continuarão assistindo aulas de forma remota, o que tem comprometido a qualidade do ensino.
Pesquisa feita pelo Instituto Unibanco, em parceria com o Insper, mostra que os estudantes brasileiros entraram em 2021 com uma redução de 9 pontos em português e 10 em matemática na escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), uma prova elaborada pelo Ministério da Educação para avaliar a qualidade do ensino brasileiro. O estudo aponta ainda que os estudantes do ensino médio aprenderam apenas 25% do que era esperado para o ciclo da segundo série durante o ano de 2020.
O fechamento das escolas desde março de 2020 impõe um alto preço ao futuro das novas gerações. Estima-se que o déficit de aprendizagem os levará a perder até R$ 700 bilhões em renda quando se tornarem adultos. Caso não haja uma retomada do ensino presencial, ao menos na modalidade híbrida, em algum momento em 2021, esse valor pode até dobrar, chegando a R$ 1,4 trilhão.
Com base nesses dados, podemos aferir com alto grau de certeza que a criação de condições diferentes para estudantes da rede pública e da rede privada tende a aumentar a desigualdade social em Mato Grosso no futuro próximo. Afinal, ambos irão competir para as mesmas vagas nas universidades públicas, mas um grupo estará melhor preparado que o outro. Os impactos disso são pouco visíveis no momento, mas vão se expressar ao longo das próximas décadas, moldando o futuro dos jovens de hoje.
A pandemia poderá ser vencida com vacinas em um breve espaço de tempo, mas suas consequências nefastas vão perdurar por muito tempo. E o aumento da pobreza e desigualdade talvez seja um dos problemas que teremos que enfrentar nos anos vindouros.