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Opinião Terça-feira, 13 de Abril de 2021, 11:01 - A | A

Terça-feira, 13 de Abril de 2021, 11h:01 - A | A

EDITORIAL - 13/04/2021

Os cegos do castelo

Da Editoria

O resultado da inflação mensal de março não foi bom, mas poderia ter sido muito pior. Conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançou 0,93% em março, maior valor já registrado para um mês de março desde 2015, quando o índice bateu em 1,32%. Com isso, a inflação acumulada nos últimos 12 meses já atinge 6,10%, bastante acima da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 3,75%.

A maioria dos analistas do mercado financeiro previa um resultado muito pior, razão pela qual o valor divulgado pelo IBGE chegou a ser comemorado, mesmo sendo ruim. Para eles, a inflação do mês de março deveria ficar entre 0,94% e 1,10%. Bateu na trave. Acabou sendo aliviada pela retração do grupo Educação, com queda de -0,52%, influenciada principalmente pelo resultado do ensino superior, que sofreu redução de -1,75%.

O crescimento acelerado da inflação nos últimos meses tem sido atribuído às altas sucessivas nos preços de alimentos e combustíveis. Neste mês de março, o grupo transportes continua sendo o principal vilão, com um impacto de 0,77 p.p. no resultado do IPCA, devido às altas nos preços da gasolina (11,23%), do diesel (9,05%) e do etanol (12,59%). O setor de alimentação, no entanto, tem apresentado certa estabilidade. A variação deste grupo de fevereiro para março ficou em apenas 0,13%, fazendo com que a alimentação fosse responsável por apenas 0,3 p.p. do IPCA registrado.

O descontrole da inflação nos últimos meses, atrelado à “lambança do Orçamento” feita no Congresso, ressuscita um velho fantasma: a ‘dominância fiscal’, aumentando o temor de que a elevação dos juros pelo Banco Central não seja suficiente para conter o avanço da inflação. Segundo essa tese, quando o país perde sua âncora fiscal, a política monetária passa a ser um problema. Nesse ciclo perverso, o aumento da taxa Selic não consegue controlar a inflação e ainda faz crescer o endividamento do país, afugentando os investidores devido ao risco de insolvência. Isso causaria uma desvalorização ainda maior do real, levando ao aumento generalizado de preços. Ou seja, o oposto do desejado.

O Brasil ainda não está nessa situação catastrófica, mas fica cada vez mais claro que está caminhando nessa direção. Esse fantasma já assombrava o mercado desde o começo do ano, mas passou a ser uma possibilidade mais real após a aprovação do Orçamento pelo Congresso Nacional, com as despesas fixas da União subestimadas. Isso quer dizer que o governo não terá recursos suficientes para pagar suas despesas básicas se a peça for sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro da forma como está. O próprio governo já teme ser acionado por crime de responsabilidade fiscal se executar o Orçamento da forma como foi aprovado.

Se torna cada vez mais urgente para o governo federal ajustar as contas públicas, racionalizando seus gastos. É preciso retomar o debate sobre as reformas tributária e administrativa, paralisadas há meses. Não é que o governo precise cortar tudo, mas precisa promover bons ajustes, pois a dívida já era alta antes da pandemia e cresceu significativamente devido à necessidade de socorrer a população da crise financeira.

O Brasil ainda tem ferramentas para evitar a piora da situação fiscal. Contudo, é preciso usá-las, o que nossas autoridades econômicas não parecem dispostas a fazer, mesmo com a inflação crescente e o desemprego nas alturas. É preocupante.

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