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Opinião Sexta-feira, 25 de Junho de 2021, 11:04 - A | A

Sexta-feira, 25 de Junho de 2021, 11h:04 - A | A

EDITORIAL - 25/06/2021

Sinuca de bico

A crise hídrica adicionou mais um componente à ‘sinuca de bico’ em que o Banco Central se meteu na tentativa de controlar a inflação brasileira. De um lado, a inflação ficará bastante pressionada pelo aumento de preço da energia elétrica com o acionamento das usinas térmicas em caráter excepcional, além dos óbvios impactos da bandeira vermelha na conta de luz até o final do ano, arrastando as consequências econômicas para 2022. Por outro lado, existe a possibilidade bastante impopular de um racionamento de energia, que ajudaria a reduzir o risco de apagão e a manter a inflação sob controle.

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Especialistas do setor elétrico apontam que nem mesmo o reajuste extraordinário da bandeira vermelha nível 2 - que deve passar de 20%, já a partir de julho - será suficiente para cobrir todos os custos das operadoras com a compra de energia. Assim, o gasto adicional precisará ser compensado no reajuste anual de 2022, ano em que as tarifas já seriam pressionadas pelo repasse de valores para pagamento do empréstimo de R$ 16 bilhões feito às distribuidoras durante o auge da pandemia de covid-19, como forma de aliviar os impactos financeiros da crise sanitária.

Nesta quinta-feira (24), o Banco Central reconheceu publicamente que esse fator tende a continuar pressionando a inflação de curto prazo por um bom tempo, pelo menos até o final do período seco, quando o País poderá voltar a contar com as hidrelétricas para produzir a maior parte de sua energia. A instituição lembrou ainda que a Aneel tem atuado junto às distribuidoras para conter altas abruptas no preço da energia, como poderia ter ocorrido em Mato Grosso este ano, o que tende a ser compensado nos próximos reajustes, criando pressão inflacionária para os anos vindouros.

Em outras palavras, as repetidas crises - econômica, sanitária e hídrica - que vivemos hoje continuará a pressionar o orçamento das famílias por ‘anos a fio’. Algum alívio poderia ser conquistado nesta seara se houver um ‘surto’ de valorização do real, reduzindo os preços para aquisição de energia e commodities. Por hora, esse movimento de valorização do real ainda não foi suficiente para compensar a alta no preço da energia e das commodities, mas é preciso considerar que a queda recente do dólar ainda é tímida.

Ainda falta ao Brasil passar uma mensagem mais clara sobre a sua política econômica e fiscal, sobretudo quanto às medidas de recuperação para o ciclo pós-pandemia. Ainda parece predominar uma evidente falta de rumo, com as principais reformas estruturantes abandonadas pelo governo. O resultado disso é a previsão de crescimento de 2,5% ao longo dos próximos anos, um sinal de que o Brasil continua condenado à lentidão econômica, após sucessivos governos que claramente não sabem o que fazer.

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