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Opinião Sexta-feira, 02 de Abril de 2021, 09:57 - A | A

Sexta-feira, 02 de Abril de 2021, 09h:57 - A | A

EDITORIAL - 02/04/2021

Um país engolido pelo luto

Da Editoria

Histórias de famílias inteiras devastadas pelo coronavírus estão se tornando cada vez mais frequentes, com a pandemia avançando de forma implacável por todo o país. Como já era previsto, março foi o mês mais mortal no Brasil, com mais de 66,8 mil despedidas. Em Mato Grosso, o total de óbitos no mês de março (1.901) supera a soma dos quatro meses anteriores (1.800). Pior ainda é perceber que a tendência é que o caos continue acelerando em abril, já que nada mudou nas últimas semanas e os óbitos estão acelerando, com 1.215 mortes nos últimos 15 dias.

Não é, entretanto, uma tragédia que nos pegou de surpresa. Há tempos temos alertado sobre a necessidade de cumprir o isolamento social, antes que entrássemos em colapso total do sistema de saúde. Poucos quiseram ouvir. O resultado tem sido mostrado com o crescimento exponencial do número de novos casos e de mortes em decorrência da covid-19. Aos poucos as mortes foram se avolumando e chegando mais próximo. Já é quase impossível encontrar quem não tenha perdido um amigo ou parente para esse terrível vírus.

A constante politização da pandemia continua prejudicando as ações de combate, à medida em que grande parte da população ainda ‘compra’ o ridículo discurso que contrapõe saúde à economia. Ter que escolher entre morrer de fome ou de doença é um absurdo, proposto por aqueles que têm recursos suficientes para não padecer nem de um nem de outro. Enquanto politizamos a guerra ao vírus, seguimos acelerando em direção ao precipício. Até quando? Quantas mortes serão necessárias para que, enfim, aceitem que é necessário pisar no freio?

As pessoas que sobreviverem a essa pandemia ainda terão que lidar com o inevitável trauma coletivo que virá com tamanho luto. Tantas famílias jamais poderão se reunir novamente, jamais. É impossível permanecer incólume em meio a tanta desgraça. Ou talvez constataremos, no final disso tudo, que perdemos parte essencial de nossa humanidade em meio à tragédia que hoje nos aflige.

A Nação brasileira tem falhado com seus cidadãos, sendo claramente um exemplo de tudo aquilo que pode dar errado em uma pandemia. Notícias falsas destiladas pelas maiores lideranças do país, polarização política das ações de combate à doença, falta de coordenação para garantir a proteção da vida, são apenas alguns dos muitos erros cometidos. A questão não é o erro, afinal é natural da experiência humana errar. O problema real é insistir nos erros.

Enquanto persistirmos em repetir os mesmos erros, levando a vida como se nada estivesse acontecendo, as mortes só vão aumentar. O luto ficará cada vez maior, engolindo o que nos sobrou de humanidade. Nesta Páscoa, se você não tem o poder de ressuscitar, fique em casa. Por você e por todos nós.

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