Romper com o ciclo de violência doméstica não é algo fácil a se fazer. A dificuldade é constantemente denunciada por ativistas e imprensa. Os números mostram que não se trata de uma denúncia vazia. Por vezes, as vítimas acabam perdendo a vida em meio a esse processo tão enraizado na sociedade ou, quando não perdem, acabam perseguidas pelo parceiro que se considera dono do corpo alheio e, talvez, da alma alheia. As raízes são tão profundas que essa violência chega a parecer natural, aceitável até. As histórias, que deveriam sensibilizar a todos, já não o conseguem porque fazem parte do cotidiano, já que quase todos vivenciaram ou conhecem alguém que viveu histórico de violência doméstica.
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Maria* é moradora do Residencial Dona Nelma, em Rondonópolis, cidade a 217 km de Cuiabá. Na última sexta-feira, 7 de maio, ela procurou a delegacia de polícia para denunciar o marido por violência doméstica.
Era noite daquele dia, quando a mulher se sentou à mesa para jantar com o marido. Ela acabou impedida de comer. Segundo o boletim de ocorrências, o homem não autorizou que ela comesse porque era ele quem comprava a comida.
Para “fazer valer sua palavra”, ele derrubou o prato da esposa e, em seguida, usou uma ripa de madeira para agredi-la, batendo em seu braço e em seus dedos da mão esquerda. Desesperada, ela correu para a casa da vizinha, que acionou a Polícia Militar. Naquela noite, o homem foi levado à delegacia para as devidas providências, mas não sem antes tentar convencer aos policiais que ele era a vítima e que a mulher o havia agredido. Ela continha hematomas, ele não.
O caso não termina aí. Na tarde de ontem, sábado (8), Maria* estava em casa como marido, quando ele decidiu beber. Depois de ficar embriagado, o homem mostrou o quanto estava revoltado por ter ido parar na delegacia.
Desta vez não houve agressão física. Ele ficou no campo das ameaças, não que isso seja menos grave, principalmente considerando as que foram feitas por ele. Segundo o novo boletim de ocorrências, o homem começou a ameaçar Maria* de morte, dizendo que iria também atear fogo na residência.
Novamente, ele foi levado à delegacia para as medidas que o caso requer.
A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa da Polícia Civil em busca de informações do caso, para saber se o homem foi detido ou se está em liberdade. A chamada não foi completada e as mensagens de WhatsApp não foram respondidas.
*Nome fictício