Autora de uma denúncia contra o deputado federal cassado Neri Geller (PP) por supostamente a forçar a realizar um aborto, a ex-servidora N.P.R. afirma que o caso está parado na Delegacia da Mulher de Cuiabá. Ela denunciou o caso no dia 11 de novembro de 2021, mas até agora não viu sua solução. Sua defesa acionou o Ministério Público do Estado (MP-MT) para pedir que notifique a delegacia para informar o andamento do inquérito e o motivo de o mesmo estar paralisado.
No documento, ao qual o Estadão Mato Grosso teve acesso, a defesa da mulher afirma que ela teve um relacionamento com o político, que durou 10 meses. Neste período, ela teria engravidado, mas a notícia não teria agradado ao deputado. A mulher acusa o político de forçá-la a praticar um aborto.
O requerimento ainda menciona que ela foi obrigada a colocar os comprimidos de um medicamento na boca e filmar o ato em ligação de vídeo com o deputado. O documento também diz que a mulher pediu medida protetiva contra o parlamentar, mas que lhe foi negado.
Além disso, a defesa também pontua que possui gravações de conversas entre os ex-casal que comprovam a denúncia, mas que o caso continua na estaca zero.
Já uma portaria da Polícia Civil menciona que a mulher registrou um boletim de ocorrência contra o deputado em 20 de abril de 2020, no qual relatou que ele a proibiu de comentar com seus familiares sobre a gravidez e que a controlava, sempre sabendo seus horários e lugares.
Neste documento, a mulher afirma que Geller ordenou que ela realizasse o aborto e, ao se recusar, passou a receber ligações e mensagens de mulheres desconhecidas, com ameaças de morte. Segundo ela, uma dessas mulheres afirmava que ela estava se relacionando com seu noivo.
A portaria afirma que a mulher relatou ter recebido uma quantia em sua conta bancária e que, assim que percebeu, entrou em contato com Neri para informar que não faria o aborto. Diante disso, o deputado teria encaminhado a ela o medicamento, por meio de um entregador. Este, por sua vez, a teria feito telefonar ao parlamentar para mostrar que estava ingerindo o medicamento.
Ela alega ter perdido o bebê no mesmo dia.
Em outro boletim de ocorrência registrado no dia 11 de novembro de 2021, N.P.R. procurou a polícia para denunciar os crimes de injúria, calúnia, perturbação da tranquilidade e difamação. Ela estaria sendo coagida via whatsApp, inclusive com ofensas racistas.
Além de receber as mensagens, a mulher ainda alega que foi procurada pelo deputado, que lhe teria pedido para parar de curtir suas publicações nas redes sociais porque jornalistas poderiam perceber sua presença e investigar a relação dos dois, que seria ainda segredo.
Neste mesmo documento, N.P.R. afirmou que o homem a entregar o medicamento em sua casa era um assessor do deputado e que o valor depositado era de R$ 3 mil. Ela afirmou que este dinheiro, inicialmente depositado para comprar o medicamento, teria sido usado para comprar comida, já que ela estava desempregada.
Ainda de acordo com ela neste depoimento, o assessor do parlamentar a teria informado que uma ex-mulher de Geller seria a autora das mensagens. A mulher então teria entrado em contato com a ex do deputado, que teria negado a autoria das ameaças.
A defesa pontua que sua cliente lamenta não contar com o apoio da Delegacia das Mulheres e que busca uma solução judicial.
EXTORSÃO
No ano passado, Neri Geller registrou boletim de ocorrência contra a mulher por extorsão, calúnia, difamação e coação. Segundo ele, os dois saíram juntos no início de 2020, por uma noite, e que então passou a sofrer ameaças.
Na versão do deputado, amplamente divulgada pela imprensa, a mulher teria afirmado estar grávida e exigia dinheiro para não divulgar o caso que os dois tiveram.
Após ele dizer que assumiria a criança, caso comprovado sua paternidade, a mulher teria avisado ter sofrido um aborto, o culpando por isso.