Um procedimento de investigação foi instaurado pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) para apurar as circunstâncias da suspeita de vacinação falsa que ocorreu com uma idosa de 88 anos, nessa quarta-feira (10/2), em Goiânia. A enfermeira que aparece no vídeo aplicando a seringa, mas que não teria injetado o líquido da vacina, será ouvida nesta sexta-feira (12/2) pela promotora Marlene Nunes Bueno.
Ao fazer o registro em vídeo da vacinação da mãe, Floremy de Oliveira Jordão, a filha Luciana Maria Jordão, de 57 anos, percebeu, além da rapidez da enfermeira, que o líquido continuava na seringa. Só ao questionar e pressionar a enfermeira, que, a princípio, desconversou, mas depois pediu desculpas, ela conseguiu que a mãe fosse, enfim, vacinada contra a Covid-19 e recebesse a primeira dose da Coronavac.
“Pretendemos ouvir amanhã (sexta-feira) todas as pessoas envolvidas: a filha da idosa, a profissional de enfermagem, a coordenadora dos trabalhos do local de vacinação e a superintendente da Secretaria Municipal de Saúde”, informa a promotora.
Será solicitada, ainda, uma perícia nas imagens registradas, e o MPGO fará uma inspeção nos locais de vacinação para observar os padrões adotados. A intenção é verificar como se dá o fluxo do processo de vacinação, desde a distribuição das doses até a aplicação.
O caso chegou à promotoria pelas redes sociais. Não houve uma denúncia formal, mas, pelo conteúdo do vídeo, a promotora pôde avaliar a gravidade dos elementos e decidiu instaurar o procedimento.
“Neste momento, é muito importante trabalhar rapidamente, para que situações como essa não se repitam. Ainda não podemos afirmar o que houve, se estamos diante de uma situação criminosa ou de um erro, mas o inquérito no dará essa resposta”, diz Marlene.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia identificou a profissional e a afastou dos trabalhos da campanha de vacinação. A capital começou a vacinar os idosos acamados e acima de 85 anos esta semana. Até então, mais de 4,3 mil pessoas desse perfil já foram vacinadas.
Imputação
Confirmada a conduta da profissional de Saúde, a promotora esclarece que ela pode, sim, responder por crime e que tudo vai depender do esclarecimento sobre o objetivo dela ao deixar de vacinar a idosa.
No vídeo, ela chega a pedir para que Floremy vire o rosto para o outro lado, alegando que seria por causa da agulha. Questionada se isso poderia indicar certa premeditação, a promotora diz que tudo será perguntado à enfermeira.
Marlene entende que é importante filmar, registrar e checar o momento da vacinação, diante do contexto. “É para que as pessoas fiquem mais tranquilas e, por isso, há necessidade de um procedimento padrão rigoroso. Não estou dizendo que não é o que está acontecendo (em Goiânia), mas quero checar”, diz.
No caso de Floremy, o vídeo foi importante para corroborar a versão da filha Luciana. “Ela simplesmente enfiou a agulha na minha mãe, tirou e ficou com a seringa para cima. Eu falei: ‘Uai, foi muito rápido’. No que eu olhei para cima, o líquido estava todinho na seringa. Ela não injetou a vacina na minha mãe. Aí eu falei com ela: ‘Olha, o líquido está todinho aí. Você não vacinou minha mãe’”, relata.