As mudanças no MEC (Ministério da Educação) durante o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) não se limitaram apenas ao comando da pasta. Em dois anos, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) —órgão ligado ao MEC e que é responsável pela realização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)— já teve quatro presidentes diferentes.
O troca-troca na chefia do Inep se concentrou nos primeiros cinco meses de 2019 e teve demissões por discordâncias de "ideologias", por conflitos internos e até por disputas de poder. O atual presidente do Inep, Alexandre Lopes, está no cargo desde maio do ano passado. Relembre, abaixo, quem foram os últimos presidentes do instituto.
Maria Inês Fini
No início do governo Bolsonaro, em 2019, a presidência do Inep era ocupada pela educadora Maria Inês Fini, que havia sido nomeada para o posto em 2016. Ela foi exonerada do cargo em 14 de janeiro de 2019.
Fini já havia atuado no Inep, entre 1996 e 2002, quando participou da criação e implementação do Enem e do Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos).
Em 2018, quando ainda não havia assumido a Presidência, mas já havia sido eleito, Bolsonaro fez críticas ao Enem daquele ano por ter trazido uma pergunta que citava o "dialeto secreto" de gays e travestis. Bolsonaro afirmou que a questão não media "conhecimento nenhum".
O Enem 2018 trazia um texto sobre o "pajubá, o dialeto secreto dos gays e travestis" e questionava o candidato quanto aos motivos que faziam a linguagem se caracterizar como "elemento de patrimônio linguístico". Na época da prova, em novembro daquele ano, o Inep não quis comentar as críticas de Bolsonaro.
Já durante a transição de governo, Bolsonaro descartou publicamente o nome de Maria Inês Fini para comandar o MEC, citando o Enem como motivo. "Essa não esteve à frente do Enem? Está fora, cartão vermelho", afirmou.
Marcus Vinicius Rodrigues
Ainda em janeiro de 2019, o engenheiro Marcus Vinicius Rodrigues foi nomeado para a presidência do Inep. Ligado aos militares, ele chegou a afirmar que planejava um novo modelo para o Enem, sem questões "ideológicas". Disse ainda que discutiria a possibilidade de Bolsonaro ter acesso prévio às questões do exame.
Rodrigues, no entanto, permaneceu menos de quatro meses no cargo. No fim de março de 2019, ele foi demitido pelo então ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez. A demissão aconteceu um dia após Rodrigues assinar uma portaria cancelando a avaliação federal de alfabetização de crianças.
"O diretor-presidente do Inep puxou o tapete", disse Vélez ao participar de uma audiência na Câmara dos Deputados, também em março de 2019. Vélez afirmou ainda considerar o cancelamento como "um ato grave, um ato que não consultou o ministro".
Rodrigues, por sua vez, afirmou em entrevistas que, no período em que permaneceu no Inep, nunca havia feito uma reunião de trabalho com o então ministro Vélez e criticou uma suposta falta de comunicação.
Elmer Vicenzi
No fim de abril, após a queda de Vélez do MEC e a chegada de Abraham Weintraub para o comando da pasta, o delegado da Polícia Federal Elmer Vicenzi foi nomeado presidente do Inep.
Vicenzi, no entanto, teve uma passagem relâmpago pelo comando do instituto: ele foi dispensado do cargo após 18 dias de trabalho. A demissão aconteceu por uma disputa de poder dentro do Inep com a então procuradora-chefe do instituto, Carolina Scherer Bicca, segundo relataram servidores do órgão ao UOL.
O conflito aconteceu em torno de uma divergência sobre a transparência de dados do Inep sobre os estudantes do ensino básico e superior. Segundo o UOL apurou, Vicenzi era favorável ao uso dessas informações para a formulação de políticas públicas. Já a procuradora era contra.
Alexandre Lopes
Atual presidente do Inep, Alexandre Lopes foi nomeado para o cargo em 17 de maio do ano passado. Antes, ele era diretor legislativo na secretaria-executiva da Casa Civil.
À frente do Inep, Lopes anunciou, em julho de 2019, o Enem digital, que será aplicado pela primeira vez em modelo piloto em janeiro de 2021. A expectativa do MEC e do Inep é que o exame seja 100% digital até 2026.
Sob o comando de Lopes, o Inep também atravessou uma crise envolvendo erros na correção do Enem 2019. O problema, segundo o instituto, aconteceu devido a uma "inconsistência" na correção dos gabaritos —na prática, candidatos que fizeram a prova de uma cor tiveram o gabarito corrigido como se fosse de outra.
Weintraub responsabilizou a gráfica que imprimiu o exame pela falha. Segundo Lopes, pelo menos 80% das notas erradas foram aumentadas após a realização de um processo de revisão dos gabaritos.
Apesar dos erros na correção do Enem, o cronograma do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que utiliza o desempenho do exame como forma de seleção para vagas em universidades públicas de todo o país, foi mantido. À época, a divulgação dos resultados do Sisu acabou parando na Justiça.
Também sob a chefia de Lopes, o Inep abriu, em maio deste ano, as inscrições para o Enem 2020. A abertura aconteceu em meio a polêmicas sobre o cronograma do exame —mesmo com a pandemia do coronavírus, o instituto mantinha a realização das provas para o mês de novembro deste ano.
No dia 20 de maio, em meio à pressão da sociedade civil e do Congresso, o MEC anunciou o adiamento do Enem por um período de 30 a 60 dias. Pouco depois, o exame foi oficialmente adiado para janeiro de 2021.