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Cidades Domingo, 20 de Junho de 2021, 18:17 - A | A

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QUASE LÁ

62% dos indígenas na Amazônia estão vacinados contra Covid-19

G1

A vacinação contra a Covid-19 de indígenas que moram em aldeias nos estados da chamada Amazônia Legal (Pará, Mato Grosso, Maranhão, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima, Acre e Tocantins) atingiu a cobertura de 77% para a primeira dose e, para a segunda, 62%. Os dados são da plataforma oficial do Ministério da Saúde compilados até sexta-feira (18).
A cobertura vacinal dos indígenas nesta região está cerca de 10 pontos percentuais abaixo da registrada entre povos tradicionais de todo o país – a taxa nacional é de 83% para a primeira dose e de 72% para a segunda. O grupo é considerado prioritário pelo PNI.

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Uma análise por microrregiões, entretanto, mostra que o índice não corresponde à realidade de todos os povos indígenas da floresta. Na verdade, há um abismo entre aldeias. De acordo com especialistas e envolvidos na campanha, o principal fator é a influência religiosa. As regiões onde há uma presença maior de pastores contrários à vacinação são as que têm as menores taxas.
Acre e Pará são estados com os distritos indígenas com os índices mais baixos. Eles não chegaram a 60% de indígenas vacinados na segunda dose – até 20 pontos percentuais abaixo do que é visto nas etnias de todo o Brasil. Todos os outros estados da Amazônia Legal mantêm uma taxa igual ou acima de 60% na aplicação dos imunizantes, taxas que variam muito de região para região.

Distritos mais afetados por fakes
 
Dois Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) paraenses têm as piores taxas de vacinação do país. Kayapó do Pará e Rio Tapajós, com 43% e 41% de imunização das etnias na primeira dose. Ainda em fevereiro, fontes do DSEI do Rio Tapajós já haviam informado ao G1 uma resistência à vacinação ligada à disseminação de informações falsas, como a mensagem que se referia à "vacina com chip da besta fera". As mesmas fontes ainda dizem que simplesmente "eles [indígenas] não querem a vacina". O problema persiste, de acordo com Caetano Scanavinno, do Projeto Saúde e Alegria, com sede na região.
"Historicamente, sempre existiu resistência ao remédio 'de branco'. Mas o que a gente está vendo agora é uma recusa acima da média, ajudada também por uma campanha de desacreditação e fake news propagadas numa região já complicada", disse.
"É muita desinformação circulando, com histórias absurdas como de um chip implantado no corpo de quem for vacinado, para ser monitorado pelos chineses, ou de que a vacina é feita por embriões de aborto. Ou mesmo que, se tomar vacina, vai virar jacaré, como bem disse o presidente. São desinformações que geram medo e matam".

Religião e a negativa dos pastores

"O principal desmotivador das vacinas foram os evangélicos. Chegaram nos últimos dez anos, teve um crescimento muito grande da igreja evangélica lá dentro [da Amazônia]. Aldeias inteiras que se evangelizaram e que não quiseram", disse Paulo Junqueira, coordenador-adjunto do Programa Xingu, do Instituto Socioambiental.
 
Junqueira cita um exemplo: "Tem um caso que eu lembro: a equipe que estava no barco desceu e chegou uma pessoa e disse: 'muito obrigado por vocês terem vindo, mas aqui ninguém vai vacinar não, vocês podem seguir viagem'." A preocupação em considerar o aspecto religioso fez o ISA criar uma cartilha direcionada especialmente ao público evangélico.

A comparação entre as quatro áreas do território indígena do Xingu é um exemplo claro da influência religiosa e, também, das informações falsas. As duas áreas com maior número de mortes e rejeição à vacina estão diretamente influenciadas pelas duas questões.
Oreme Ikpeng, do povo Ikpeng na aldeia Moygu, no médio Xingu, reforça o óbvio: são povos diferentes e com religiões diferentes. Em todo o território do Xingu 79% receberam a segunda dose, segundo o Ministério da Saúde. Há uma variação entre as 4 regiões existentes dentro da terra indígena.

"Somos 16 povos falando sua língua, sua cultura, sua tradição. Nós temos vários meios de comunicação entre nós e estamos tentando orientar quem não quer a vacina. Mas obrigar não é nosso jeito de resolver as coisas", disse Oreme.

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