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Cidades Sexta-feira, 16 de Abril de 2021, 19:37 - A | A

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TRAGÉDIA

Jovem que morreu após cirurgia plástica tinha testado positivo para covid no fim de março

Kessillen Lopes | G1 MT

A vendedora de carros Keitiane Eliza da Silva, de 27 anos, que morreu após a realização de cirurgia plástica, na quarta-feira (14), tinha sido diagnosticada com Covid-19 há menos um de mês da morte. O resultado do exame saiu no dia 22 de março.

Ela já estava com a cirurgia marcada. Cinco dias depois, ela fez um novo teste rápido, que deu negativo, ou seja, ela já teria se curado.

A assessoria do médico Alexandre Veloso, que operou Keitiane, disse que ele se recusou a fazer a cirurgia quando ela testou positivo. No entanto, após novos exames apontarem que ela estava bem clinicamente e que não tinha mais a doença, a cirurgia foi marcada.

A família apontou negligência médica e registrou um boletim de ocorrência contra o médico e o hospital. Conforme consta no laudo do Instituto Médico Legal (IML), Keitiane morreu devido a um choque hemorrágico horas após a cirurgia.

De acordo com o advogado da família da jovem, Marciano Nogueira, o hospital não possui leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, por isso, não teria condições de realizar os procedimentos, o que caracteriza negligência médica.

 

Em nota, o Valore Day Hospital disse que prestou todo o suporte à paciente, com acompanhamento da equipe médica e de enfermagem e que, conforme exigido pelo hospital, a paciente fez outro teste de Covid no dia 12 deste mês com resultado negativo para IGG, IGM e Swab Nasal.

“A administração do hospital esclarece ainda que a paciente teve os exames de risco cirúrgico e risco anestésico aprovados, ficando assim apta a realização da cirurgia”, explica.

O médico Alexandre Veloso teria afirmado à paciente que não havia risco de que sequelas da Covid-19 influenciassem no procedimento após 30 dias sem a doença.

A assessoria dele informou que, após o novo teste ter dado negativo, foram solicitados os seguintes exames: hemograma completo, PCR, risco cirúrgico, cardio e anestesia.

Segundo Alexandre, os exames não apontaram nenhuma alteração por causa da Covid e a paciente estava bem para a cirurgia.

Os procedimentos realizados foram:
 Lipoescultura

Enxerto de gordura em glúteo

Abdominoplastia

Correção de cicatriz na mama (decorrência de outro procedimento médico)

Keitiane trabalhava como vendedora em uma concessionária de veículos — Foto: Facebook/Reprodução

Keitiane trabalhava como vendedora em uma concessionária de veículos — Foto: Facebook/Reprodução

Covid x Riscos cirúrgicos

Ao G1, a médica infectologista Márcia Hueb explicou que as sequelas deixadas após infecção pelo coronavirus, em um curto período, podem acarretar em riscos durante procedimentos cirúrgicos.

“Não há estudos específicos que explica isso, mas, de maneira geral, qualquer pessoa que se recupera de uma condição clínica que a leve a uma debilidade, a recuperação inicial começa a partir de um mês. Existem complicações que se mantém por meses, mesmo após a cura”, explicou.

Márcia afirmou que a recomendação para cirurgias eletivas é que o paciente espere por seis meses.

“Se tiver que fazer um procedimento que possa esperar, quanto maior o período, melhor”, ressaltou.
No caso da Keitiane, a infectologista disse que ainda é cedo para apontar uma causa específica e que é necessário fazer exames para chegar a uma conclusão.

No entanto, ela disse que os procedimentos realizados na jovem são agressivos e que, mesmo com o teste negativo, há a possibilidade da paciente ainda estar infectada.

“Varia de paciente para paciente, mas não é seguro. Três semanas é um período considerado curto. Ela pode ter tido uma reação ocasionada pelo estresse cirúrgico, ou mesmo uma infelicidade com os procedimentos”, disse.

A infectologista explicou ainda que os 14 dias recomendados para isolamento após teste positivo é o período suficiente para que o paciente não transmita a doença, no entanto, não é suficiente para que ele esteja livre do vírus.

O socorro

A cirurgia da paciente durou cerca de 6 horas. Segundo o hospital, o procedimento começou às 8h e terminou às 14h de terça-feira (13). Após este horário, ela foi levada ao quarto e apresentou boa recuperação.

Às 19h, a jovem se queixou de falta de ar. O médico de plantão solicitou exames, que não mostraram nenhuma alteração no quadro clínico. Às 20h, o médico Alexandre Veloso esteve com a jovem. Segundo ele, Keitiane não teve mais falta de ar e permanecia com os parâmetros vitais estáveis.

Por volta da meia noite de quarta-feira (14), a jovem apresentou instabilidade e teve uma parada cardíaca.

Em seguida, segundo informou o médico e o hospital, a paciente foi transferida para uma Unidade Intensiva de Saúde (UTI) de um hospital particular de Cuiabá, às 8h, mas morreu às 11h.

O médico informou que prestou todo suporte à paciente e que, após a morte, colocou assistentes sociais e psicólogas para prestar atendimento à família dela.

“Em nome de todo corpo clínico que participou deste procedimento e dos que fizeram o atendimento posterior, principalmente em nome do médico Alexandre Veloso, a assessoria jurídica esclarece que todo procedimento cirúrgico possui risco, mas se coloca à disposição da família, da mídia e protocolos legais na certeza de que cumpriram todos os protocolos de segurança e saúde”, disse.

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