Pouco mais de 4% da área prevista para plantio da soja em Mato Grosso terá de ser replantada devido à estiagem prolongada que assolou o estado nos últimos meses. A estimativa foi feita pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), que também prevê a possibilidade de redução do potencial produtivo das lavouras, que tiveram seu ciclo encurtado pela falta de chuvas e calor excessivo.
Inicialmente, o Imea projetava uma área plantada de 12,2 milhões de hectares em Mato Grosso, com produtividade estimada em 59,7 sacas por hectare, o que resultaria na produção de 43,78 milhões de toneladas de soja. Os números ainda não foram revisados pelo Instituto.
“No entanto, segundo os informantes do Instituto, algumas áreas poderão não ser replantadas com soja devido aos custos adicionais ou, para os produtores que fazem algodão em segunda safra, destinar parte da área para o cultivo da fibra, visto a necessidade de produzir e cumprir os contratos já firmados”, diz trecho do relatório do Imea.
O plantio da soja na temporada 2023/24 é o mais atrasado dos últimos cinco anos, mas foi acelerado nas últimas semanas devido às chuvas. Até o dia 24 de novembro, o plantio estava em 98,4% da área prevista, sendo as regiões Centro-Sul e Sudeste de Mato Grosso as mais atrasadas em relação à safra anterior.
O clima deve melhorar nas próximas semanas, segundo o Imea, dando condições para os produtores recuperarem parte do prejuízo. Tomando por base os relatórios da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA, na sigla em inglês), o Imea aponta que o volume de chuvas deve crescer, para algo em torno de 35 a 45mm, o que deve aliviar o estresse hídrico em algumas regiões.
QUEBRA DE SAFRA
A redução da produção de soja nesta temporada já é um consenso entre os especialistas do setor. Eles só não conseguiram mensurar a dimensão desse impacto porque ainda está cedo para tomar os dados e fazer novas projeções. Porém, o presidente eleito da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber, já antecipou que a quebra da safra deve passar de 10%.
“O período de estiagem atrasou o plantio da soja. Nós viemos de uma excelente produção da soja, mas nós devemos ter aí uma queda acentuada. Ainda é difícil contabilizar, porque está muito cedo, mas podem passar dos 10% as perdas, se o clima persistir da maneira que está. E nós podemos ter uma redução no plantio da área de milho, por inviabilizar, por estar fora da janela. E, mesmo assim, a gente acredita que muitos produtores vão insistir, porém, com alto risco de não produzir dentro do esperado”, disse Lucas, em conversa com jornalistas na última semana.
Devido ao atraso no plantio e às perdas já registradas, alguns produtores já desistiram da safra de soja e se preparam para antecipar a semeadura do algodão. Essa mudança traz o risco de perder a produção de soja, mas pode compensar para o produtor porque o algodão produz mais pluma por hectare quando plantado em dezembro, em vez de janeiro, na segunda safra.
“Ainda é difícil contabilizar, mas a gente tem, por exemplo, relatos de produtores de áreas de mais de 4 mil hectares que vão deixar de plantar. Vários produtores, áreas bem significativas, que vão deixar de plantar a soja já por estar fora da janela e vai diretamente para o algodão, ou seja, a área que não vai produzir soja também. Mas é difícil contabilizar hoje porque o nosso estado é muito grande, muito manchado, tem muitas realidades. Praticamente, Mato Grosso a gente tem que tratar como um país e não como um estado”, relatou.