A carne de peixe ficará 33% mais cara no varejo de Mato Grosso nos próximos dias. Acompanhando a tendência dos demais mercados de proteína animal, a piscicultura mato-grossense enfrenta o aumento de custos na produção e escassez de insumos na reta final deste ano.
Além dos desestímulos causados pela pandemia, os piscicultores que resistiram à crise até agora planejam repassar para os mercados os custos com a produção. “O problema mais sério que estamos enfrentando neste fim do ano é a falta de insumos para a ração. Há uma dificuldade na compra, pois não está tendo produto suficiente e o aumento de preço segue muito elevado. Isso vai fazer com que a comercialização dos nossos peixes fique mais difícil para colocar no mercado”, explica Igor Davoglio, presidente da Associação dos Aquicultores do Estado de Mato Grosso (Aquamat).
Está entre as bases que compõem a ração para peixes o milho, a soja e a farinha de carne, commodities com ampla produção no estado, que nos últimos meses registra forte valorização. “Essa falta de produtos [mercado interno] é porque a China está comprando tudo e prejudicando a piscicultura local. Para reduzir as perdas, iniciamos um movimento de aumento de preços, que deverá ser de até 33%, para todas as espécies de peixes cultivadas”, aponta Igor.
Quase todas as proteínas animais, mais consumidas no Brasil, já tinham registrado aumentos de preços no varejo. A carne bovina, por exemplo, teve uma variação de 15,54% na média de preços no varejo para todos os cortes, em 12 meses. “Hoje a proteína mais barata no mercado é a do peixe. A carne bovina, a suína e o frango subiram e o peixe ainda não. Agora no fim do ano ele [peixe] vai se equiparar ao mercado”, alerta o representante do setor.
BRASIL
Conforme o Anuário Brasileiro da Piscicultura Peixe BR-2020, a produção brasileira de peixes de cultivo atingiu 758.006 toneladas em 2019. Esse desempenho representa crescimento de 4,9% sobre o ano anterior (722.560 t).
Os peixes nativos representam 38% na produção total, recuando quase dois pontos percentuais em relação aos 39,84% do ano anterior.
Rondônia lidera no segmento de peixes nativos de cultivo, com uma produção de 68,8 mil toneladas. Na sequência vem Mato Grosso, com 46,2 mil toneladas.
Impactos da pandemia
A piscicultura mato-grossense encerrará o ano no negativo. A expectativa do setor é que a queda na produção de 2020 supere a do ano anterior, que teve um recuo de 10%. Esse é mais um reflexo da pandemia no estado, a qual frustrou planos de expansão da atividade previstos para este ano.
“Em dezembro de 2019, tivemos avanços na lei que regulamentou atividades de criação de peixes. Ela entrou em vigor neste ano e acreditávamos que novos empreendimentos da piscicultura, principalmente no lago do Manso, iriam acontecer. Porém, a pandemia chegou e os investimentos ficaram parados”, recorda Igor.
Em 2019, a queda na produção peixes no estado foi de quase 10% em relação ao ano anterior, saltando de 54,5 mil toneladas para 49,4 toneladas. No ranking da produção de peixes de cultivo por espécies, Mato Grosso caiu da 4ª para a 5ª posição. Os peixes nativos representam mais de 95% da produção no estado.
“O que conseguimos avançar neste ano foi na efetivação de alguns frigoríficos, tanto na Baixada Cuiabana, quando no restante do estado. Além disso, já contamos com um frigorífico habilitado para exportações”, lista o presidente da Aquamat.
A regulamentação da atividade no estado também provocou a saída de alguns produtores do setor, o que contribui para que a queda na produção seja maior que a de 2019. “O decreto fez muita gente sair da atividade, parar a produção e não voltar mais. Agora temos mais produtores desistindo, principalmente os pequenos, pois para eles ficaram inviáveis os custos”, revela Igor.
O decreto 337, de 23 de dezembro de 2019, definiu normas para nortear o licenciamento de atividades de criação de peixes (aquicultura) no Estado. Ficou determinado que o cultivo de espécies autóctones – que não têm origem na região – e exóticas devem obter prévio licenciamento ambiental junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT), independentemente do tamanho do empreendimento.
As bacias hidrográficas Amazônica, Paraguai e Tocantins-Araguaia destacam-se entre os potenciais do estado.