De volta às raízes, um grupo de 300 famílias sobrevivem hoje da própria produção na Gleba Monjolo, localizada em Chapada dos Guimarães. No local estão reunidos pequenos agricultores de hortifrutigranjeiros que abastecem as feiras da região local e Cuiabá, com alimentos orgânicos. Atualmente, os moradores locais relatam ter dificuldades para investir na melhoria da estrutura de produção. Juntos, eles estão em busca de ajuda técnica e especializada para expandir os negócios e criarem uma cooperativa.
Os habitantes da Gleba Monjolo aprenderam a viver com pouco. Da produção individualizada, eles vivem da venda dos alimentos, que também são compartilhados dentro da comunidade. “Se tem alguém precisando de arroz, eu compartilho, porque eu gosto de ajudar; vivemos em comunidade e sempre nós ajudamos. A gente não pode ser egoísta, não é minha filha?”, relata Elvira Alves do Nascimento, 68 anos, agricultora na Gleba Monjolo há mais de dez anos.
Viúva, Elvira mora sozinha em um terreno da gleba, no qual planta e cultiva o que dá. “Eu já morei na cidade, mas nasci no sítio. Na minha idade não tem emprego para mim na cidade e eu não quero pedir, quero ganhar com o suor do meu esforço. Aqui na roça eu mesmo planto e colho tudo, tem abacaxi, abóbora, mandioca, minhas galinhas. Eu amo viver aqui e faço tudo sozinha”, descreve a produtora.
Há 10 anos, quando trocou a cidade pelo campo, Elvira acompanha o desenvolvimento da região chegando aos poucos. “Aqui não tinha estrada, a gente descia na rodovia e vinha a pé [ cerca de 12 quilômetros]. Energia aqui só chegou tem uns quatro anos, durante seis anos eu vivi aqui com a luz de lamparina que até hoje eu guardo aqui”, recorda Elvira, que agora sonha com criação de uma cooperativa no local.
“Antes da cooperativa a gente precisa de ajuda com orientação profissional para melhorar nossos produtos e a produção. Nós somos mais de 300 famílias e a maioria tira daqui o sustento. Precisamos de maquinários para trabalhar a terra, de técnicos que nos ensinem a plantar melhor, sem veneno e respeitando as áreas de preservação”, avalia dona Elvira.
Atualmente, há na região cultivo de abacaxi, mandioca, mel, milho, hortaliças, além da criação de porcos e galinhas caipiras.
Está caro para o pequeno
Da criação de animais, porcos e frangos, o agricultor Misak Corsi, 69 anos, tira a maior parte de seu sustento. Ultimamente, ele tem repensado se dá ou não continuidade à atividade. Em suas terras, Misak também cultiva hortaliças com a ajuda de sua esposa.
“Eu crio frango e porco, mas está quase parando porque o milho subiu demais e não está compensando. Eu só não parei ainda porque tenho bastante bicho, mas quero continuar com hortifrúti. Por enquanto estou mantendo a família, mas o trem está arroxado. Estamos precisando de ajuda, falta uma cooperativa aqui e também ajuda na contabilidade”, aponta Misak.
Misak e Elvira são apenas dois exemplos de agricultores que amam a terra e querem melhorar as relações com ela. Assim como os dois, a maioria das famílias Monjolo não contabiliza os gastos com produção, venda, investimentos.
“Eu vendo assim, picado, ontem eu vendi uma galinha. Eu não sei quanto que ganho e, quando vou para a feira, passo no mercado e não vejo muito isso”, afirma Elvira. Para melhorar a vida da comunidade, a Associação de Pequenos Permacultores Rurais da Gleba Monjolo tenta buscar soluções e parcerias para os moradores locais.
“A associação foi criada para ajuda para os produtores com orientação e melhorar e organizar situações como a logística. Hoje o escoamento ainda é individual, mas planejamos fazer isso em conjunto”, afirmou Tiago Brandani, porta-voz da associação.
Pequeno X Grande
Alguns fatores deixam em desvantagem os pequenos produtores brasileiros ante a produção de grande escala. Em artigo, publicado pelo Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (Ipea), o pesquisador e professor José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho trata um pouco sobre a disparidade dessa relação.
Um desses fatores é a diferença de custos entre os perfis dos produtores. O pesquisador também destaca as vantagens obtidas com a união dos pequenos produtores.
“O fato é que a agricultura de maior escala consegue comprar insumos a preços mais baratos e vender seus produtos a preços maiores, normalmente via exportação. A agricultura de menor porte, ao contrário, compra os insumos mais caros e vende seus produtos a um menor preço, normalmente destinado ao consumo do mercado doméstico. As associações e as cooperativas de produtores buscam constituir uma organização por membros que atuam na mesma atividade econômica e possuem os mesmos interesses de aumentar a produção e, consequentemente, a lucratividade”, escreve o pesquisador.