A inflação deve encerrar o ano próxima de 6%, com os preços de alimentos e serviços impedindo uma queda mais acentuada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O cenário mais otimista é de que o IPCA do ano deve ficar em 5,75%, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar o índice no começo de janeiro de 2023.
O número é próximo do IPCA-15, que foi divulgado pelo IBGE na última sexta-feira (23), apresentando uma inflação de 5,90% no acumulado dos últimos 12 meses. O IPCA-15 é uma prévia da inflação oficial e analisa dados coletados entre os dias 20 do mês anterior com o mesmo dia do mês atual, ao contrário do IPCA, que analisa dados do mês cheio.
Na avaliação do economista Vivaldo Lopes, os preços de itens alimentares foram os que mais seguraram a inflação em um patamar elevado, impedindo que o Banco Central se aproximasse da meta, estabelecida em 3,5%, com uma margem de 1,5% para mais ou para menos. Portanto, para ser considera cumprida, a inflação deveria encerrar 2022 entre 2% e 5%.
Outro ponto destacado é o aquecimento do setor de serviços, o último a se recuperar da crise instalada pela pandemia de covid-19 no Brasil. A demanda por serviços como salões de beleza, viagens, passagens aéreas e terrestres foi muito alta, o que puxou os preços para cima. Após a retomada da economia, a demanda do setor foi muito acima do que o mercado poderia oferecer aos consumidores, que ficaram com o consumo restrito no período pandêmico.
“As pessoas passaram a viajar mais, fazer mais turismo, ir mais a restaurantes. Naturalmente, isso impulsionou o preço, porque os serviços voltaram em um patamar acima do que estava em 2021”, afirma Vivaldo.
Para 2023, as projeções apontam para uma inflação um pouco abaixo de 5%, mas isso só poderá ser confirmado no final do ano que vem. “No próximo ano, o fator que vai segurar um pouco a inflação é a taxa de juros alta, com a Selic alta, o crédito fica caro, portanto reduz poder de consumo das famílias e das empresas”, pontua Vivaldo, que acredita na manutenção da Selic em 13,75% em 2023.
Portanto, o economista descarta mudanças na taxa básica de juros pelo Banco Central, que deve começar a analisar isso a partir de agosto de 2023 e fazer uma possível redução em março de 2024. A razão para isso, avalia Vivaldo, é que o governo Lula não vai conseguir desenhar um novo arcabouço fiscal no primeiro semestre de 2023.
“Na melhor hipótese, isso deve ocorrer no segundo semestre. Em razão disso, não muda muito o cenário de risco e de inflação. Portanto, eu trabalho com a leitura de que o Banco Central vai passar o ano todo sem reduzir a taxa de juros. Se a gente tiver alguma expectativa de redução da taxa, vai ser a partir de março de 2024”, conclui.