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Opinião Terça-feira, 06 de Outubro de 2020, 13:40 - A | A

Terça-feira, 06 de Outubro de 2020, 13h:40 - A | A

LOUREMBERGUE ALVES

Fazem-se passar, sem jamais ter sido

Lourembergue Alves*

Ainda eram fortes as ondas de fumaça quando amanheceu o dia, e continuou assim durante todo tempo. Nem sinal de chuva. Embora tivesse começado a corrida eleitoral. Desfilavam-se os candidatos. Eram tantos, mas tantos que as vistas do eleitorado não alcançavam o final da lista deles. Tal lista se tornou maior em razão da eleição suplementar para uma das três cadeiras do Senado. Eles se colocaram nos lugares que lhes foram reservados. Atentos, esperaram. Por fim, foi dada a largada. Não houve quem a queimasse, como em 2018. Mesmo que tenha havido três ou quatro pedidos de impugnação. Jogo duro. Ninguém esperava ser fácil. Difícil também para o votante, pois tem que escolher um entre as opções. Espere! Um não. Cada eleitor terá que votar três vezes. Isso porque há a vaga de senador, a das cadeiras de vereador e as de prefeito.  

Não começou a propaganda via rádio e TV. E, quando este começar, o barulho tende a se intensificar. Pessoas que até outro dia, sequer olhavam no rosto de quem dividiam com elas o espaço das ruas, dos shoppings, das calçadas, e, agora, fazem questão de os cumprimentarem, ainda que seja por meio de mensagens por whatsapp, facebook, twiter. São santinhos, uma porção deles que são distribuídos pelas redes sociais. Chegam sem que alguém os tivesse solicitados. Pedidos de amizades surgem aos montões também pelo instagran. O invisível se tornou visível aos olhos dos candidatos. Por pouco tempo, claro. Curto e passageiro, diga-se de passagem. Afinal, passadas as eleições, a rotina de antes voltará a se instalar, com o fim das lembranças de que o Zé da esquina fora lembrado, ainda que se esteja sob o clima da pandemia e as consequências da quentura gerada nas entranhas da natureza.

Natureza fortemente maltratada pelas mãos movidas de ganância, que faz do humano não apenas o depredador, mas o causador das mudanças bruscas de temperatura. Mudanças que deixam o céu de mau-humor, cinzento e bravio. Os animais se desesperam, são feridos e morrem na tentativa de salvarem as próprias peles. Crianças e adultos sofrem. Assim mesmo, impera-se o improviso, afinal, inexistem planos de ações, cuidadosamente preparados com antecedência, até mesmo como reflexos das queimadas registradas no ano passado.  Quadro que, por certo, continuará com as eleições e posses dos eleitos neste ano. Isto não é difícil de prever. Basta que se dê uma olhada nos discursos políticos, nos textos que os candidatos ao Executivo apresentaram a Justiça eleitoral. Apresentaram-nos como se planos de governo fossem, em cumprimento à exigência legal, incluídos obrigatoriamente em 2009 na Lei 9.504/97, que regula as eleições.

O plano é um documento onde deveriam constar as ideias e as propostas dos candidatos, partidos e alianças para administrar a cidade. Uma ferramenta, portanto, importante para o eleitorado, pelo qual se informa a respeito das prioridades de cada candidato. Serviria, igualmente, para estabelecer relações de identificação e de oposição entre os postulantes. Ah!... Deveria ser assim, mas, infelizmente, não o é. Pois o texto em que cada um deles depositou na Justiça eleitoral nada tem a ver com plano. São, na verdade, um texto confeccionado pelo Ctrl-C  e Ctrl-V. Em seguida, um desfile de promessas, vendidas como se propostas fossem, ainda que nada tivessem com estas. Promessas que foram juntadas em forma de um rosário, sem que tivessem, sequer, saídas de uma mesa de discussão no seio de cada partido ou coligação. Partidos e coligações jamais fizeram quaisquer estudos sobre as dificuldades da cidade. Jamais, também, ao longo desses quatro anos, ouviram os segmentos da sociedade. E, por não terem as ouvidos, estão desacompanhados de um discurso condizente com o momento, embora venham a se apresentar como “novo”, e o eleitor os compra, pensando que verdadeiramente fossem, sem nunca terem sido. Continuará a administração por improvisação. É isto.

 

*Lourembergue Alves é professor universitário e analista político. 

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