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Opinião Segunda-feira, 28 de Junho de 2021, 20:38 - A | A

Segunda-feira, 28 de Junho de 2021, 20h:38 - A | A

EDITORIAL

Futuro ameaçado

Enfrentamos neste momento o que talvez seja um dos maiores desafios da história do Brasil: uma profunda crise política e econômica que perdura há quase uma década, temperada com questões de ordem social e ambiental. Temos, pois, um momento de profunda complexidade ao avaliar nosso futuro como país. Mas há um fator que complica mais ainda nossa situação. A juventude brasileira está perdendo as esperanças de um futuro melhor e de qualquer mudança positiva no país, um cenário que leva cerca de 47% dos jovens a pensar em deixar o Brasil para ter uma vida melhor no exterior.

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Nem mesmo os jovens mais qualificados veem condições de permanecer no Brasil, sobretudo após o sucateamento mais recente das instituições de ensino e pesquisa, uma situação que leva à ‘fuga de cérebros’. A desesperança desse segmento da população foi captada no Atlas das Juventudes, pesquisa promovida pelas redes de organizações Em Movimento e Pacto das Juventudes pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Essa situação é particularmente preocupante diante do fato de que o Brasil vive hoje seu ‘bônus demográfico’, período de ouro na história de qualquer nação, quando o contingente de pessoas ativas é maior do que o de dependentes, crianças e idosos. Hoje, são mais de 50 milhões de jovens no Brasil, com idades entre 15 e 29 anos, o que representa ainda uma oportunidade para o desenvolvimento. Afinal, por meio da participação dos jovens, é possível encontrar novas soluções e possibilidades, muitas vezes rompendo com formas tradicionais e já desgastadas de abordar os problemas.

O problema é que os jovens brasileiros estão acreditando cada vez menos em seu país. E não é para menos. Com a chegada da pandemia, cerca de 70% dos jovens relatam ter dificuldades para conseguir emprego. Foram eles também os que mais perderam renda durante esse período de adversidade. Como resultado, apenas 70% dos jovens brasileiros acreditam que é possível prosperar através do trabalho, um número muito inferior ao de nossos vizinhos sul-americanos. Na Argentina, que também vive uma profunda crise, o índice atinge 85%, chegando a 91% na Bolívia.

Tamanha desesperança se reflete na vontade dos jovens de participar da vida política. A filiação de jovens a partidos políticos caiu 44% entre 2010 e 2018. Mas isso não significa o mero desinteresse. Aliás, a política foi o tema de maior interesse de jovens que participaram do Atlas, com 54% dos participantes indicando que eram ligados a alguma causa ou defendiam alguma bandeira. O que se vê, de fato, é uma descrença com as instituições públicas brasileiras, resultado de uma sequência de governos que esqueceram de olhar para os jovens e de projetar o futuro.

Os dados do Atlas das Juventudes mostram que o próximo governo que se formar tem um grande desafio à frente para devolver a esperança de dias melhores aos nossos jovens. Caso contrário, estaremos condenando nosso futuro enquanto Nação. Afinal, como bem lembram os autores do estudo, “não há melhor previsor do futuro do País que o universo dos jovens de hoje”.

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