Enquanto o Brasil resiste a taxar o super-ricos em sua reforma tributária, a estratégia é levada a cabo pelo presidente norte-americano Joe Biden, como forma de subsidiar a recuperação econômica da maior democracia do mundo. A ideia de Biden é aumentar a taxação da parcela mais rica da população, o que deve reforçar o caixa do governo norte-americano em US$ 1,5 trilhão ao longo dos próximos 10 anos.
No hemisfério Sul das Américas, essa proposta encontra uma resistência descomunal. O Brasil segue em sua estratégia de taxar itens básicos de consumo, enquanto dá imunidade tributária às lanchas, jatos e iates. Só de IPVA sobre helicópteros e jatos particulares, poderíamos arrecadar R$ 2,7 bilhões ao ano. Esses dados são defasados, pois foi calculado pelo Sindifisco com base na frota de 2013, que já mais que dobrou desde então.
Colocando tudo na ponta do papel, estima-se que o Brasil poderia arrecadar R$ 272 bilhões por ano com a taxação das grandes fortunas, quase o mesmo valor que o governo gastou para pagar nove parcelas do auxílio emergencial em 2020. Essa troca faz todo o sentido. Um estudo conduzido pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made-USP) aponta que tributar a parcela mais rica da população para transferir renda aos mais pobres pode ajudar na recuperação da economia brasileira sem criar grandes despesas para o governo federal. Conforme o estudo, essa transferência de renda pode elevar o PIB brasileiro em 2,4%.
Pode parecer que não, mas a tributação da parcela mais rica da população pode ser benéfica para eles próprios. A conta é simples: os ricos tendem a guardar boa parte de seu dinheiro, ao passo em que os pobres têm mais necessidade de comprar. Dando vazão a essa necessidade, os mais pobres passarão a consumir os produtos produzidos pela empresa da parcela mais rica. Ou seja, o dinheiro acabará retornando.
Outro ponto que sustenta a tese é a análise dos gastos do auxílio emergencial no ano passado. A cada R$ 100 pagos pelo governo, a economia brasileira sentia um aumento de R$ 106,70 na renda agregada. Economistas são unânimes em afirmar que a crise vivida pelo Brasil em 2020 só não foi pior devido ao pagamento do auxílio emergencial. A previsão inicial apontava para uma queda entre 8,4% e 14,8% no PIB, mas o ano encerrou com retração de apenas 4,1%.
Mesmo diante de tantos benefícios, o governo insiste em resistir à taxação dos super-ricos, transformando o Brasil em um paraíso fiscal para 1% da população, às custas de milhões de trabalhadores que veem parte significativa de seus salários ser consumida pelos impostos. O resultado é visível nos indicadores socioeconômicos e no desempenho pífio da economia brasileira durante a última década. Seguimos no caminho de sempre.