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Opinião Quinta-feira, 20 de Maio de 2021, 14:10 - A | A

Quinta-feira, 20 de Maio de 2021, 14h:10 - A | A

EDITORIAL - 20/05/2021

Uma faca de dois gumes

A máxima dos negócios é que a crise de um é a oportunidade de outro. Melhor exemplo disso é a situação econômica da Argentina, que levou o país a suspender as exportações de carne na tentativa de conter a inflação galopante em seu território. Os argentinos mal tinham fechado suas portas quando rivais começaram a batalhar para aproveitar o vácuo criado com a saída de um dos maiores players do mercado. Maior exportador do mundo, o Brasil tende a ampliar ainda mais sua fatia no mercado com a saída dos ‘hermanos’.

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Só que nem tudo são flores. O aumento das exportações nos últimos anos tem sido alcançado às custas dos trabalhadores brasileiros, que têm riscado a carne bovina de seus cardápios diários porque não conseguem pagar seu preço. Em algumas regiões do Brasil, o quilo da carne de segunda é mais caro do que a diária de um trabalhador assalariado. O preço da carne continua subindo de forma descompassada com a realidade brasileira. Nos últimos 12 meses finalizados em março, por exemplo, a alta da carne foi de 29,51%, enquanto a inflação ficou em 5,2%.

O resultado disso foi capturado em levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em 2020, esse efeito resultou em uma queda de 5% do consumo de carne bovina por pessoa no Brasil, saindo de 30,7 kg para 29,3 kg por habitante. Este é o menor volume desde 1996, quando se iniciou o levantamento, mas representa apenas um passo de uma tendência. Em 2019, o consumo de carne dos brasileiros já havia recuado 9%, também devido ao aumento nos preços e à queda na renda média dos trabalhadores. Àquela altura, não tínhamos a pandemia nem seus efeitos econômicos para culpar.

Não é apenas a carne que está cada vez mais inacessível ao brasileiro médio. Levantamento realizado pelo grupo “Alimento para Justiça, da Universidade Livre de Berlim em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de Brasília (UnB) aponta que 59,4% das famílias brasileiras se encontram em algum grau de insegurança alimentar.

Insegurança alimentar não é só a falta, mas também a substituição de alimentos riscos em nutrientes e vitaminas, por alimentos mais baratos, que, muitas vezes, são aqueles ricos em farinhas e açúcares, na tentativa de compensar o preço dos alimentos. Uma situação que já virou rotina para muitas famílias brasileiras.

Considerado um celeiro para o mundo, o Brasil dá um péssimo exemplo ao não conseguir alimentar sequer os seus próprios habitantes. Produz comida suficiente para alimentar bilhões, mas não para si próprio.

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