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Política Quinta-feira, 26 de Junho de 2025, 10:27 - A | A

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CRESCIMENTO EXCLUDENTE

VÍDEO: “Tem jatinho, mas falta comida”: Sérgio Ricardo cobra políticas públicas para MT

Conselheiro critica exclusão social no estado do agronegócio

Da Redação

Em entrevista sobre os desafios sociais de Mato Grosso, o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT), conselheiro Sérgio Ricardo, fez um alerta duro e direto: o estado mais rico do agronegócio brasileiro convive com níveis alarmantes de pobreza, insegurança alimentar e desigualdade estrutural.

“Aí eu volto a uma discussão importante, que que são as desigualdades que nós temos aqui. Nós temos 51 municípios, né? Que segundo o último relatório do IBGE, perdeu gente, as pessoas estão indo embora, não tem emprego”, apontou.

Para o conselheiro, o crescimento econômico de Mato Grosso tem sido restrito a poucos setores e não se converteu em desenvolvimento social. Ele defendeu uma política permanente de geração de empregos, moradia e qualificação profissional.

“Eu entendo que a única forma que o estado tem dentro dessa questão que eu falei, que política pública, ela tem que ter sempre uma construção de 50 mil a 100 mil habitações em todas as gestões de governos. [...] o que precisa para um estado mudar sua situação é você gerar oportunidade e qualificação das pessoas [...] Se você não gera a oportunidade trazendo empresas para cá e não qualifica essas pessoas, você não vai gerar emprego nunca no estado de Mato Grosso.”

Sérgio Ricardo também apontou o absurdo entre a riqueza do agronegócio e a exclusão da maior parte da população dos seus benefícios. Segundo ele, o avanço da tecnologia no campo reduziu drasticamente a demanda por mão de obra, agravando o desemprego estrutural.

“Nós somos fortes no agronegócio. Não precisa nem de piloto de avião para jogar o defensivo, agora já é drone. [...] Então, quer dizer, até aquilo que mais era necessário, o agronegócio não precisa mais. Não precisa mais de mão-de-obra.”

O conselheiro citou como exemplo de política eficiente o projeto "Mato Grosso Hora de Investir", lançado há 25 anos. À época, ele atuava como repórter e acompanhou a mobilização do governo Dante de Oliveira para atrair empresas e investimentos ao estado. Para ele, aquela foi uma virada de chave que hoje precisa ser retomada, em outra escala.

“Eu entendo que lá foi o alavancamento da economia de Mato Grosso se deu naquela época. Então, eu entendo que há necessidade também de política de Estado, né? De atrair gente para cá”, afirmou.

O conselheiro também pontuou sobre a disparidade social de Mato Grosso. Ele afirmou que 25% da população mato-grossense depende de programas sociais como o Bolsa Família, mesmo vivendo no “estado mais poderoso do agronegócio”.

“[...] 900 mil pessoas estão no Bolsa Família ou estão em algum programa do governo, algum programa de ajuda do governo. Então, isso é um negócio impressionante. 25% da população de Mato Grosso está sobrevivendo no Bolsa Família, no estado do Agronegócio, no estado rico, no estado poderoso. Então, alguma coisa está errada. Nós somos um estado desigual, né?”

Questionado sobre a fome e a insegurança alimentar, o conselheiro reforçou: “Sim. São as desigualdades. Hoje nós temos 80 favelas só em Cuiabá e Várzea Grande. As pessoas que já moravam mal, já estão deixando de morar mal para morar pior ainda. Estão abandonando a cidade.”

E ao ser perguntado sobre quem seria o responsável por esse cenário, respondeu com firmeza: “Isso é culpa de gestões, é culpa de falta de política de governo. Quando eu digo governo, não é esse governo do estado, é falta de políticas de governo, de prefeituras.”

"Auto lá": Mato Grosso não é a maravilha que parece

Sérgio Ricardo também fez duras críticas ao descaso histórico com infraestrutura básica, como saneamento, água e saúde pública.

“Como que pode uma cidade como o Várzea Grande tem 158 anos, não ter água na casa das pessoas? Isso é gestão. Como que pode a situação da saúde em Cuiabá chegar onde chegou? Isso é falta de gestão. Como que pode do estado, nós somos um estado campeão em hanseníase, 600% acima da média nacional na hanseníase. [...] nós temos a maior frota de jatinhos do Brasil, mas somos os campeões em hanseníase e temos a quarta maior cidade em feminicídio que é Lucas do Rio Verde, então auto lá. Nós não somos essa maravilha toda, né?”

O presidente do TJMT afirma que o TCE e o Judiciário devem ter um papel ativo no debate sobre investimentos públicos e prioridades sociais. Ele defende que seja criada uma “lista mínima” de prioridades nos orçamentos estaduais.

“O tribunal vai entrar muito nisso, na discussão de políticas públicas. [...] o governo do Estado tem 20% de tudo que ele arrecada para investimento. [...] Então nesses 20, nós temos que discutir no que investir. [...] Tem que ter uma linha, uma relação mínima de prioridade", concluiu.

Veja vídeo:

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