Após um intenso movimento de recuperação na segunda metade do ano passado, a indústria brasileira voltou a perder a confiança. É o que aponta a prévia da Sondagem da Indústria de março, realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Conforme o levantamento, o Índice de Confiança das Indústrias (ICI) deve cair mais quatro pontos em março, chegando a 103,9 pontos. Caso o resultado se confirme, essa será a terceira queda consecutiva retornando ao menor patamar desde agosto de 2020, quando o ICI ficou em 98,7 pontos.
Ao final do ano passado, a indústria nacional seguia otimista e chegou a alcançar o pico das expectativas em dezembro, chegando a 114,9 pontos, com o ‘boom’ no consumo ocasionado pelas festas de final de ano. Mas o recrudescimento da pandemia no começo deste ano deteriorou o otimismo e a confiança na recuperação econômica. O indicador de utilização da capacidade instalada também aponta redução, caindo ao menor nível desde setembro de 2020, com 78,4%.
Não é surpresa que a confiança da indústria esteja em queda. O agravamento da crise sanitária brasileira tem levado várias fábricas a fecharem as portas ou reduzirem suas escalas de trabalho na tentativa de colaborar para frear o avanço do vírus. As maiores fabricantes de automóveis do país anunciaram a paralisação temporária de suas linhas de produção, fato que deve gerar repercussões em toda a cadeia de suprimentos.
A recuperação da indústria em 2020 se deu com base nas medidas de auxílio promovidas pelo governo federal, sobretudo o pagamento emergencial à população mais pobre, além da flexibilização do isolamento social. A situação mudou.
O cenário atual aponta para uma redução na demanda, agravada pela adoção de medidas mais restritivas pelos Estados e Municípios, que precisam agir rapidamente para conter o elevado número de mortes e de novos casos de covid-19. Claro que a lentidão do processo de vacinação no Brasil não colabora nem um pouco para melhorar as expectativas e a demora para o pagamento do auxílio emergencial agrava a situação. Enfim, toda a conjuntura aponta para tempos desfavoráveis para a indústria.
O setor industrial agora depende da melhora do mercado de trabalho, o que só será possível quando finalmente deixarmos a catástrofe epidemiológica em que nos encontramos atualmente. E isso, infelizmente, só será possível com o cumprimento rigoroso das medidas de biossegurança e o isolamento social. Remar contra a maré só fará a sangria se arrastar por mais tempo. Os próprios industriais reconhecem isso e sabem que, neste momento, é hora de pisar no freio. Afinal, não existe economia sem vidas.